*História de Louco *
[Ação #M#]
O manicômio estava superlotado. Havia doidos “saindo pelo ladrão”, devido à falta de espaço. Seguindo em sentido opostos, dois doidos caminhavam pelo corredor. Óbvio está que ambos se encontrariam por estarem em sentidos opostos.
Havia, no entanto, um doidão diferenciado pela sua pose ao andar: nariz em pé e a cada passo dado, ele avançava o ombro do lado em que a perna se direcionava. Trazia na cabeça um tosco chapéu e sua mão direita enfiada entre os botões desabotoados da sua camisa.
À sua passagem, todos os que estivessem de pé o reverenciavam, se postando naquela posição para prestar-lhe uma continência. Aqueles que, por ventura, estivessem assentados, logo, logo procuravam postar-se de pé, para a honrosa saudação ao passante.
E eis que o inevitável Encontro dos Tantãs acontece. O Tantã I, o da pose, vai resoluto pelo seu caminho. Ao passar pelo Tantã II, nota que este não lhe prestara a devida forma de respeito, não o saudando à sua passagem. Raivoso, ele interpela o seu desobediente desafeto:
-Opa, opa! Pode parar, pode parar! Por que você – ao passar por mim – não parou para prestar o devido respeito à minha pessoa? – repreende o Tantã I no alto da sua pose! Você não sabe com quem está falando? – indaga o Tantã I.
-Por que eu deveria prestar-lhe continência? – retruca o Tantã II.
-Ora, ora, ora!... Eu sou Napoleão Bonaparte – o imperador!
-Quem lhe concedeu esta honraria de... Imperador? – indaga o Tantã II.
-Foi Jesus Cristo quem me condecorou!
-Euuuu???...
~~*~~
P.S. Tive a oportunidade de assistir – e recomendo – o ótimo filme intitulado: Holocausto Brasileiro, baseado no livro homônimo – que, também recomendo – da excelente escritora Daniela Arbex, no qual faz a narrativa que desnuda os horrores praticados contra os doentes mentais em um Manicômio da cidade de Barbacena – MG, hoje fechado!
Imagem: Google