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Altamiro Fernandes
A vida em verso e prosa
Textos

*O Tronco Caído*

 

Introito:

 

Há uma bela lenda dos índios Cherokee sobre o "Ritual de Passagem" que diz isto:

O índio Pai leva o filho curumim para a floresta, coloca uma venda nos seus olhos e o deixa lá, sozinho sob a escuridão da noite. O jovem deve permanecer sentado em um tronco a noite toda, sem remover a venda dos olhos, até que os raios do sol o avisem que é de manhã. Ele não pode e não deve pedir ajuda a ninguém. Se ele sobreviver à noite, sem se desmoronar, será um homem. Não pode contar a sua experiência aos amigos ou a ninguém, porque cada jovem tem que se tornar um homem sozinho. O jovem está claramente aterrorizado! Ele ouve muitos barulhos estranhos ao seu redor. Certamente, existem feras ferozes ao seu redor. Talvez até homens perigosos que o machuquem.

 

O vento sopra forte a noite toda balançando as árvores, mas ele continua corajosamente, sem tirar a venda dos olhos. Afinal, é a única maneira de se tornar um homem!

 

Finalmente – depois de uma noite assustadora – o sol sai e ele tira a venda dos olhos. E é nesse momento que ele percebe que o pai está sentado no tronco, ao lado dele. O Índio Pai estivera de guarda toda a noite protegendo o Curumim Filho de qualquer perigo. O pai estava lá, embora o filho não soubesse.

 

Nós também nunca estamos sozinhos. Na noite mais assustadora, no escuro mais profundo, na solidão mais completa, mesmo quando não nos damos conta disso, Deus nunca nos abandona, e nos guarda... sentado no tronco ao nosso lado.

 

Parte I:

 

Às vezes – ouso corrigir-me para dizer ‘que sempre’ – estamos pedindo ao Nosso Deus para prover-nos de tudo aquilo que viermos a necessitar, como se Ele, o Nosso Pai, ficasse n’um “home office”, para atender todos nossos pedidos diuturnamente. Não é bem assim! Pensemos:

-Será que “o que estamos a pedir, somos merecedores para receber”? O Nosso Deus não tem – e nem está, repito – um “home office” com o fito de nos prover das nossas necessidades em todo tempo/hora. Convenhamos – fora Ele mesmo que dissera: -“Faça a sua parte que Eu vos ajudarei”! (Josué 1: 9)

 

Em relação a esta fala de Deus ao homem, existem várias histórias hilárias. Em uma delas há a mais engraçada de todas. Vejamo-la:

Nos céus pairavam enormes nuvens, prenúncio de fortíssimas chuvas que deveriam cair na região. E elas caem assustadoramente. Ruas alagam, rios transbordam, casas são destruídas e vidas são ceifadas.

 

Próximo às margens do transbordante rio está localizada a imensa casa de um Pastor. Perigosamente, as águas se aproximam. Uma viatura do Corpo de Bombeiros se aproxima para socorrer ao Pastor que se nega a deixar a sua casa alegando:

-“Deus está comigo! Não se preocupem, Ele virá me socorrer! – dissera”!

 

A chuva se torna mais intensa. A viatura se afasta em busca de novas vítimas. As águas chegam até a sala da casa do Pastor. Ele, então, sobe para o segundo andar da residência, levando a tiracolo a mulher e filhos.

 

Uma lancha do Corpo de Bombeiros aparece e explica ao Pastor sobre os perigos pelos quais passam, ele e seus familiares. O comandante pede:

-Venham para a lancha, Pastor. As águas estão subindo em demasia – bem acima do que é normal! – alerta o comandante da lancha salvadora!

 

E como da vez anterior, o Pastor se negando a receber a ajuda oferecida diz:

-“Deus está comigo! Não se preocupem, Ele virá me socorrer”! – rindo diz!

 

As águas, agora incontroláveis, sobem invadindo toda a residência. E isso obriga o Pastor e familiares a buscarem abrigo na cobertura da casa.

 

Eis, então, que aparece um helicóptero do Corpo de Bombeiros, tendo o comandante – como das vezes anteriores – implorado e alertado o Pastor sobre os perigos aos quais ele e familiares estavam expostos.

-Pastor, venha com a sua família para a nossa aeronave. As águas estão perigosamente subindo de forma incontrolável! – avisa o comandante!

 

Novamente o Pastor se nega a receber a ajuda oferecida, repetindo o velho jargão!

-“Deus está comigo! Não se preocupem, Ele virá me socorrer”! – repete entre risos!

 

Eis, então, que o pior e previsível acidente acontece: as águas invadem a casa do Pastor, e esta é destruída. No acidente previsto, morrem o Pastor e todos os membros da sua família.

 

Na porta do Céu está o velho São Pedro a recepcioná-los. Furibundo e com raiva de Deus, ele pede uma audiência com o Criador e, por Ele, é recebido. De orgulho ferido e de nariz em pé, o Pastor “cobra do Criador o porquê de ter sido abandonado, se Ele lhe dissera que, sempre estaria ao seu lado para protegê-lo nos momentos de maiores aflições que viesse necessitar”?

-Por que o Senhor me abandonou? – indaga possesso!

-“Pode parar, viu? Pode parar”! Quando as chuvas iniciaram Eu mandei uma viatura do Corpo de Bombeiros, para socorrer você e familiares. Você – tolo e idiota mortal – rejeitou-a! Ato seguinte, mandei uma lancha para socorrer você e seus familiares! O que você fez? Rejeitou a minha ajuda. (O Pastor nesta “altura do campeonato” estava mais lívido que nunca. A cabeça que – antes, mantinha o nariz em pé – quedara!) Por último, Pastor – prossegue Deus – eu enviei em socorro a vocês, o helicóptero que, por certo, os salvariam. A tudo que fiz por vocês, por você fora rejeitado! Agora, cheio de prepotência, com um nariz em pé, aparece com acusações de tê-los abandonado! Quer saber da melhor?

-Vá para os quintos dos infernos e suma da minha presença!

 

Epílogo:

 

Como pode-se notar, há entre O Tronco Caído e a História do Pastor, uma enorme simbiótica que se resume na presença de Deus em nossas vidas. Na narrativa O Tronco Caído, vamos encontrar o Curumim Filho muito confiante. Mesmo – e até sentindo medo – ele confiava de que algo ou alguém estaria, ali, para lhe proteger. Isso – acima de confiança – é Fé no mais profundo âmago das realidades. Ele, o Curumim, entendia que a Fé em Tupã – o seu Deus – o salvaria. Bastaria a ele fazer a sua parte: Confiar e aceitar quaisquer das ajudas que Tupã lhe enviasse! E ele confiou e o Pai terreno o protegeu sob os auspícios da Deus Pai Tupã!

 

Na história/piada sobre o Pastor, fica evidenciado que o ser humano se notabiliza pelo fato de sempre pedir e esperar que “tudo lhe caia do Céu”. Ledo engano. Nada que venha a cair do Céu, não presta. Se fosse bom, ficaria lá!

 

Portanto, façamos ser merecedores daquilo que viermos a pedir ao Nosso Pai e aceitarmos aquilo que Ele nos prover sob a forma da ajuda pedida. Vamos aceitar aquilo que Ele vier a nos prover, pois nem sempre somos merecedores do que estamos pedindo!

 

Deus não está à nossa disposição num “home office”. Nós é que devemos sempre nos postar à disposição Dele para servi-lo, sem a pretensão de virmos a ser servidos!

~~*~~

Imagem: Google

 

Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 04/02/2024
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