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Altamiro Fernandes
A vida em verso e prosa
Textos

*Esqueceram de Mim*

#Memorial Recantista# – Eu Apoio

Intróito:

 

O despertador toca insistentemente despertando-o. Irritado, ele desperta, se espreguiça, esfrega os olhos inchados pela longa hibernação. Em seguida, abre a bocarra em escandaloso bocejo. -Arre! Já é chegado o tempo de acordar-me? Ainda é muito cedo para isso, pô! – esbraveja!

 

O despertador não era um relógio comum, não era mero marcador das horas que, pachorrentas, passavam. Ele marcava o período mensal. E o mês de dezembro chegara célere, acordando o irritado Solidário Espírito Natalino. Queria ele continuar dormindo o sono dos justos.

–Acordar-me para quê? Seria tão bom deixar-me continuar dormindo! – resmunga! Mesmo sabendo que esta é a sua missão, resmunga! Estamos no mês de dezembro e tenho que espargir a solidariedade no coração de toda a humanidade.

 

Eis, aí, uma insofismável e tristonha realidade: o solidário Espírito Natalino só se faz presente nas festividades natalinas quando – e sem sofismas – deveria se fazer presente em todos os átimos temporais em nossos corações. Contudo, isso não acontece. “O brasileiro só é solidário no câncer”! (Nelson Rodrigues) Estamos de frente da mais insofismável das verdades: A Morte da Solidariedade!

 

Dezembro chegou. E mesmo ostentando a sua má vontade, o Solidário Espírito Natalino paira no ar, buscando bons corações. Bons corações, hoje, são raridades. E agora José? O amor ao próximo raríssimo é. E agora José? Solidariedade não há mais. Boas coisas – pouco há ou nada mais há! E agora (Eu, Tu, Ele, Nos, Vós e tantos outros.) Josés? E agora?...

 

O predominante Espírito da Gastança se faz presente, expulsando todos os bons sentimentos que antanho havia nos bons corações. A festa pede que todos se fartem e se embriaguem na essência do Baco nas luxúrias dos festins ao deus Eros! É tempo, para que todos possam exibir o seu exacerbado narcisismo – maior que aquele que matou o excêntrico Narciso, afogado no lago – ao admirar a própria beleza. E lá vão os Josés e as grã-finas do exibicionismo a distribuírem as falsas solidariedades despertadas na época do Natal.

 

Os Shoppings – e as “lojinhas das pontas de esquinas – estão abarrotados. Caríssimos brinquedos são disputados aos tapas e safanões. As “grã-finas de nariz de cadáver” (Personagem do imensurável dramaturgo Nelson Rodrigues) desfilam elegância e ostentações que o poder econômico a elas confere.

-Neste Natal, quero fazer uma boa ação, bem diferente das demais. Quero visitar um orfanato, escolher uma criança – de preferência bem pretinha – para passar o natal na minha mansão! Tudo isso estará sendo filmado para ser postado na minha página social. Querida, isso vai quebrar a internet! – comenta a cadavérica grã-fina de nariz de cadáver à sua frívola amiga!

-Miga... isso vai bombar! Boa ideia! Vou fazer o mesmo! – aplaude a tonta e cadavérica “miga”!

 

Parte I:

 

A que ponto chegamos, Santo Deus? As pessoas – “boníssimas pessoas” (Sic!) – dirigindo-se a um orfanato para pegar uma criança abandonada, como se ela fosse um produto à venda nos luxuosos Shoppings. E o pior: terminadas as festas, esta inocente criança – que viveu uma realidade utópica – é acordada para a triste realidade distópica que a vida a ela impusera: a volta a um orfanato onde o Espírito da Solidariedade permanece desperto em todos os dias e meses do ano porém, muito carente e diferente daquilo que ela sonhava.

 

Indago aos meus botões: -O que se passa pela cabeça – se é que elas a têm – das pessoas que agem assim, com o fito de – tão somente, diga-se – aparecerem em suas páginas sociais, ferindo o sentimento das inocentes crianças ao fazê-las acreditarem na existência de um mundo melhor?

Os meus botões – ante tantas maldades – não me responderam! – estão silentes... silentes permaneceram... silentes permanecerão!

 

Epílogo:

 

Estamos à frente do que se transformou aquela que era a mais linda Festa da Cristandade, marco supremo da chegada do Salvador Jesus Cristo ao nosso mundo, para ao nosso mundo salvar. Todavia – em um animalesco ato covarde – O assassinamos com a mais abjeta de todas as formas de maldades: a Crucificação! E Ele, ascendendo-se às alturas teve, ainda, o gesto magnânimo ao Pai: -Perdoa-lhes Pai... eles não sabem o que fazem! (Mas sabiam sim, viu Jesus?)

 

É Natal! A época é a da: comilança, da gastança e dos licenciosos festins ao deus Eros! É a época de demonstrarmos, nas redes sociais, a nossa solidariedade (Sic!) que ficara dormindo, durante todos os meses do ano.

 

De tudo todos se lembram! Presentes são dados, vinhos são degustados, mas o principal é o Aniversariante, mas Ele é esquecido!

- Mas, quem está aniversariando? – indago! Respostas não as tenho! Então me lembro do que Ele dissera no ato da covarde crucificação:

-Perdoa-lhes Pai, “eles sabem” o que fazem e até, já se Esqueceram de Mim!

~~*~~

Aos diletos e inestimáveis amigos (as), ínclitos poetas e poetisas, contistas e cronistas deste nosso Sodalício Recantista, quero externar os meus mais efusivos votos de um Felicíssimo Natal e um Ano Novo abarrotado de Saúde; Paz, Amor e Felicidades Plenas. Que o nosso bom Deus Filho Jesus Cristo possa estar sempre habitando nos nossos corações!

 

Meus parabéns, Jesus Cristo, e muito obrigado por mais este ano de vida que nos fora concedido por Vós!

 

Imagem: Google

 

 

 

Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 22/12/2023
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