A Ratoeira e o Ratinho Jojoca
O sol está se pondo no horizonte. Dentro da sua toca o ratinho Jojoca desperta da sua sesta. Fora acordado pelo barulho de um objeto que caíra no assoalho da casa onde ele tem a sua! Revira-se de um lado para o outro, abre os bracinhos, a bocarra, e com os costados das mãos coça os ocelos.
Precisava ver o que provocara o barulho que lhe tirara da sesta e despertou sua atenção. Assim pensando, lá vai ele matar a curiosidade – aquela mesma que matou o Gato! O que ele viu o medrou. A dona da casa, ao abrir um dos pacotes, deixara cair o objeto que fizera o Jojoca despertar da sesta e daquela que matara o Gato: a curiosidade! O objeto que provocara o enorme barulho era uma grandona ratoeira.
Apavorado, Jojoca correu para o quintal da casa e, arfando, chegou às demais dependências da fazenda com a intenção de alertar a todos os seus amigos sobre o perigo a que estavam expostos. Aflito e arfando, encontra-se com a galinha Giselda e avisa-a:
-Dona Giselda, há um perigo rondando a fazenda. A dona da casa comprou uma enorme ratoeira e...
-Desculpa-me Jojoca! Mas, entendo que isso seja um grande perigo para você e não para mim. Isso não irá me prejudicar em nada. Se vira, pois, nada tenho com isso. – dissera a galinha Giselda entre cacarejantes sorrisos, cortando de vez o papo!
Triste, Jojoca não se deixou abater. Foi avisar seu amigo, o Porco Bolão, de quem ele filava uma boiazinha lá no chiqueiro. Encontrando-o, avisa-lhe do enorme e iminente perigo que o amigo estava correndo:
-Amigo Bolão, você está em perigo, cara! A dona da fazenda comprou uma enorme ratoeira e...
-Bah! E daí meu? Ratoeiras pegam ratos e nunca irão pegar porcos! Não há nada que eu possa fazer por você! E... “cá pra nós, vei” – o problema é seu! Nada tenho a ver com isso, mas prometo: irei ao seu velório! – soltando grunhidos em forma de sorrisos de escárnio, dissera!
Jojoca ficou furibundo. Era seu dever alertar a todos os da sua comunidade, pelo grande perigo que estavam correndo com a chegada da temível ratoeira. Ele não se deixa abater. Valente que só, e resoluto, não se deu por vencido. -Vou avisar a minha amiga, a vaquinha Mimosa. Ela há de dar-me a devida atenção e, por certo, vai me ouvir! Chegando ao celeiro encontra-a e começa a narrar o iminente perigo que estava por acontecer.
Ruminando o alimento há pouco ingerido, Mimosa ouve o Jojoca. -Mimosa, minha amiga, pode até parecer que não, mas todos nós estamos em perigo. A dona da casa comprou uma enorme ratoeira e, por isso, está colocando a vida de todos em perigo iminente. – relata Jojoca!
A vaquinha Mimosa engole o ruminado, balança o rabo e responde: -Amigo Jojoca (Humpf!) veja bem o meu tamanho, cara! O que uma simples ratoeira pode representar algum risco para mim? Enfática prossegue: -Por acaso estou em perigo? Claro que não! O problema é todo seu, vei! Mas... acredite: por ser sua amiga, estarei lamentando sua morte! – respondera-lhe a Mimosa entre os ‘mugídicos’ sorrisos!
Jojoca, coitado, retorna para a sua casinha. Estava triste, muito triste, havia tentado avisar a todos os amigos do iminente perigo representado pela temível ratoeira – não lhe deram ouvidos.
No meio daquela noite Jojoca é despertado pelo ensurdecedor Click. Era a ratoeira que desarmara. Havia pegado uma presa. Em seguida, Jojoca ouve a dona da casa indo verificar o que estava morto na ratoeira e constata ser uma cobra. Pensando que a mesma estivesse morta, pega-a e, em seguida, é picada. Um lancinante grito ecoa pela casa.
Desperto, o marido corre em socorro da esposa encontrando-a desfalecida pelo efeito do mortífero veneno. Pega-a no colo, colocando-a no carro para levá-la ao hospital da cidade mais próxima. Medicada, ela retorna para a fazenda, mas com uma febre muito forte. Como é sabido por todos, para se alimentar alguém que está com febre, nada melhor que uma canja de galinha. -Maria, vá até o galinheiro e traga uma galinha, faça uma canja bem gostosa para a sua patroa. – dissera à trêfega empregada.
Atendendo à ordem dada, Maria vai até ao galinheiro, pega a galinha Giselda – a mesma que dissera: -Desculpa-me Jojoca! Mas, entendo que isso seja um grande perigo para você e não para mim. Isso não irá me prejudicar em nada. Se vira, pois, nada tenho com isso. Vale ressaltar: Por “nada ter com isso” – mas tendo sim – virou uma deliciosa canja.
Mas, o estado de saúde da mulher foi se agravando. Os amigos da região começaram a fazer visitas de solidariedade. Então, e para alimentar a todos visitantes, o fazendeiro, enfático, resolveu que deveria matar um porco. Assim pensando, foi ao chiqueiro, abateu o porco Bolão, aquele mesmo que dissera: -Bah! E daí meu? Ratoeiras pegam ratos e nunca irão pegar porcos! E “cá pra nós vei” – o problema é seu! Não há nada que eu possa fazer por você, a não ser ir ao seu velório! E pelo fato de “o problema ser do Jojoca e não seu” (mas era, sim) ele virou um delicioso churrasco para os visitantes!
A esposa do fazendeiro não melhorava. Ao contrário do que se esperava, a mulher veio a óbito. Muitos amigos vieram para o funeral e as condolências habituais. Então, e para alimentar a todos que se fizeram presentes, ele foi até o curral e sacrificou a vaca Mimosa, aquela mesma que, por se julgar enorme, estaria livre do perigo apresentado pela ratoeira a tal ponto de desdenhar do aviso dado pelo amigo Jojoca, dizendo-lhe: -Amigo Jojoca (Humpf!) veja bem o meu tamanho, cara! O que uma simples ratoeira poderá representar algum risco para mim? Enfática prossegue: Por acaso estou em perigo? Claro que não! O problema é todo seu, vei! Mas... acredite: por ser sua amiga, estarei lamentando sua morte!
E a vaquinha Mimosa – coitada da Mimosa – apesar todo o seu tamanho, também, fora sacrificada para saciar a fome dos presentes ao velório!
Epílogo:
Quando você se inteirar que alguém dentro da sua comunidade está diante de um problema – e acreditar que o problema não lhe diz respeito – procure se lembrar que, quando uma ratoeira ameaça a um dos seus, você, também, estará em risco iminente! Não seja uno, pois – somado a você e aos demais – somos partes deste todo, sem nos importarmos com gênero, raça, cor da pele, opção sexual, crença ou fanatismos religiosos que tantos males fazem à comunidade formada por nós: seres humanos sem o sentimento humanitário que deveríamos ter.
Devemos ter em mente que: sempre em nossas vidas, em todos os nossos caminhos, haverá uma imensurável ratoeira armada e pronta para nos esmagar!
A Ratoeira e o Ratinho Jojoca é uma história inspirada, também, numa fábula do grande escritor Esopo, intitulada: O Rato e a Ratoeira!
Nota do autor: Altamiro Fernandes da Cruz
Imagem: Google