*A BAILARINA*
Sobre o móvel do meu quarto ela está.
É uma caixinha de música, silenciosa,
Com uma estática bailarina a posar.
Admiro a sua beleza – sempre airosa,
Como o argênteo céu em noite de luar.
Quero ouvir a música mecânica – dou-lhe corda!
Quero vê-la rodopiar, sorrindo, tonteando-me,
Inebriando-me com o seu mágico bailar.
Recosto-me sonolento ao macio travesseiro,
Morfeu me chama: - Venha! Áspero respondo: - Já vou!
Deixa-me vê-la bailar pelo meu quarto inteiro
Quero extravasar fantasias – usufruir-me do seu amor!
Nela, as diminutas e diáfanas vestes esvoaçam.
Vestes? Não há mais vestes. A Bailarina despida está.
Vejo-a nua, louca, dançando em desenfreado elã,
Aconchegando-se aos meus braços, vem me beijar.
Mordisco-lhe as orelhas, seu pescoço, seus seios.
Seu ventre balouça com a ofegante respiração.
Minha barba roça-lhe as coxas e, em devaneio,
Ela pede: -“Quero ser a sua amada – dou-lhe meu coração!”
Nossas línguas se entrelaçam, são najas famintas ao caçar.
Estamos esfaimados, carentes de amor e com desejos,
Que ambos queremos aplacar, saciar, gozar e degustar.
Queremos sufocar em múltiplos carinhos, carícias e beijos
Todos os desejos que, medrosos, teimávamos em ocultar.
Ela em mim cavalga (É minha amazona!) sou dela seu rocim.
Temendo cair do luxuriante e lesto galope alucinante
Ela se contorce – geme, urra, grita – e se agarra a mim.
Chegamos ao esperado êxtase profundo, louco, inebriante.
Desmaiamos na extrusão do ápice de um amor sem fim.
O trim, trim, trim do relógio despertador me desperta.
Olho em volta: estarrecido, orate e pasmo estou.
A Bailarina – alegre e sorridente – nua, na caixa está.
Traz os olhos cansados pela vivida noite de amor.
Se o que vivi fora um sonho, não quero nunca acordar.
Voltarei a dormir, pois quero, com a Bailarina sonhar!
No chão do quarto há o que das vestes dela restou.
Estão amassadas, molhadas e com o indelével cheiro,
Da inesquecível, inebriante e gostosa noite de amor,
Sentimento esse que o volátil tempo nunca apagou.
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Imagem: Google