Capítulo II:
O sol escaldante esquentava o asfalto e queimava os descalços pés dos meninos. Os relógios públicos, espalhados pelas ruas diziam: são 13h00min! Por eles passavam atribuladas pessoas correndo, sobraçando imensos fardos de presentes a demonstrarem suas altas posses – o poder aquisitivo que detinham.
Param os meninos! Estão, agora, em frente a uma loja de eletrodomésticos. O Flamengo – clube do coração de ambos – acabara de conquistar tudo que era possível ser conquistado dentro do futebol. Confortavelmente, tomam assento nas suas caixas de engraxate para assistirem aos últimos lances de gols do Mengão em um televisor de última geração – um enorme 4K com tela de 65 polegadas, coisa de louco – exposto na vitrine! Não demorou muito e, logo, apareceu um vendedor expulsando-os dali, visto estarem atrapalhando o comércio! Em outra loja viram crianças a experimentarem o que de mais caro havia em matéria de roupas, sapatos e os mais sofisticados brinquedos – na verdade, parafernálias eletrônicas, tão em voga, diga-se! Os presentes, as roupas e os brinquedos eram disputados por meninos que não são crianças. Faltavam-lhes a meiguice, o amor, a ternura, a fraternidade e a doçura tão comuns nas reais crianças – fatores, esses essenciais para vir a ser uma criança. Pela má educação recebida, eram birrentas, prepotentes e já se achavam – graças ao poder de compras dos pais – os donos do mundo! E tudo isso era visto, assistido, aprovado pelo ávido vendedor puxa saco que, solícito e rindo um profissional riso amarelo dizia: - “Oh! Que gracinha de crianças!”
Carlinhos e o amigo Luizinho tiveram uma pecaminosa e danada inveja. Nunca tiveram nada daquilo e, por certo, nunca possuirão