Gato Por Lebre
Introito:
Tarumirim e Taruaçu são cidades fincadas no estado das Minas Gerais. São cidades próximas de Governador Valadares – capital do leste mineiro. Os nomes Tarumirim e Taruaçu – traduzidos do idioma Tupi/guarani para o nosso português – significam, respectivamente, Tarumirim (Céu Pequeno) e Taruaçu (Céu Grande) onde o Taru significa Céu!
Não tenho pretensões em aprofundar nos conhecimentos dos pontos geográficos e, muito menos, nos linguísticos. Não são – devo confessar – minha área! O que desejo, então, com este introito? Aos que me lerem e quiserem saber, lhes direi:
-Quero falar de um personagem nascido na região das citadas cidades e que, por lá, era muito conhecido, querido e amado. Há, contudo, um detalhe: Se alguém, por ventura, pelo meu personagem procurar, dizendo ao indagado o nome do mesmo, receberia como resposta um – “não conheço essa pessoa, não!” Imaginemos o diálogo:
-“O senhor conhece Plautino Soares?...” – sabe onde ele mora?
-“Conheço não senhor! Nem nunca ouvi dele falar!”
Contudo se a pergunta viesse formulada de modo diferente! Digamos, assim:
-“O senhor conhece o Titino?... – sabe onde ele mora?”
-“Claro moço! Quem é que não conhece o Titino?” Ele mora na (....). E a informação era completada com todos e os mínimos detalhes.
O porquê disso? Plautino – Titino para todos – era, por demais, conhecido por todos. A um cão vira-lata que fosse indagado: - Você conhece o Titino? O cão, latindo, responderia: -“Au! Au, au, au, auuuu!” (Traduzindo do idioma canino para o nosso português: - Sim! Eu conheço o Titino, au, auuu! – diria o vira-lata!
O meu personagem era conhecido por ser um ótimo cantor seresteiro (Tão em voga à época! Tão em falta hoje em dia!) e um grande amigo. Aquele amigo certo para as incertas horas da vida. Aquele amigo que deve ser guardado no lado esquerdo do peito, bem juntinho ao coração! E o Titino era assim, diferentemente dos demais que possuem cabeça, tronco e membros, ele possuía – tão somente, diga-se – um enorme coração! E fora esse enorme e já cansado coração que muito cedo – antes do que fora combinado – o levara para o andar superior. E ele ascendeu-se às alturas onde, imagino, está ao lado do Criador, cantando e contando as piadas que o consagraram, quando em vida.
Ele gostava de cantar. Possuía uma bela voz – que nos fazia lembrar os famosos trovadores de Toledo – e um agradável repertório para todos os gostos. Cantava em sofisticados clubes e mansões. Cantava para as elites. Mas nunca se negou em levar a sua bela voz aos botecos e barracões, quando solicitado para tal! E esse era apenas um dentre os muitos ‘imãs’ que o fez granjear e atrair as inúmeras amizades conquistadas ao longo da sua vida.
Outra das suas facetas: era um emérito contador de “causos” e piadas que alegravam os ambientes por ele frequentados. E foi dele que ouvi a narrativa que ora passo!
Com a palavra, o meu amigo Titino:
-Eu estava em um ônibus indo para o meu trabalho. Lotado, os passageiros pareciam ser sardinhas enlatadas, espremidos uns contra os outros. Espremidos daqui, re-espremidos dali, lá íamos nós nos nossos sofrimentos do cotidiano.
Naquele dia, contudo, as coisas não estavam tão ruins. O corpo que se encontrava a minha frente, e de costas para mim, era alucinante. As torneadas pernas – prisioneiras de uma justa calça – demonstravam o quão alucinante seria poder vê-las desnudas e acariciá-las. Os longos cabelos, ainda úmidos, exalavam um inebriante perfume de xampu, contrastando com a fétida catinga reinante no ambiente. E eles eram louros e cascateavam em ondulantes mechas pelo pescoço e ombros, dividindo as róseas orelhas de onde pendiam encantadores brincos.
Embriagado pelo doce perfume e levado pelo mágico momento, aproveitei-me da situação. Encostando-me de maneira acintosa ao belo corpo, comecei a usufruir com as delícias que, dele, emanavam. As estonteantes curvas (Mais perigosas que as da estrada de Santos) entorpeceram-me a mente, turvando-a do bom senso e razão! Naquele momento, eu era apenas um macho ávido em desfrutar dos prazeres por mim imaginados, e que aquele belo corpo pudesse ao eu louco proporcionar.
Titino faz uma pausa. No seu rosto, há o desenho de um sorriso de deboche. Em seguida, retoma a narrativa que, para nós, era motivo de louca ansiedade por vermos o seu imaginário e épico final! Estávamos de olhos rútilos e lábios trêmulos, ávidos pelo desenrolar da narrativa do sádico Titino!
Titino, enfim, retoma – para alívio dos tarados – a sua narrativa:
-Encostei-me às nádegas que se encontravam à altura do meu baixo ventre. Senti que o corpo à minha frente gostou da investida, porque ele forçou para trás a investida que forcei para frente. Oba! Vou me dar bem – pensei! A guisa de uma injustificável justificativa – e na maior cara de pau – gritei:
-Gente! Por favor, não empurrem! Menti com deslavada desfaçatez! Queria que me empurrassem mais, mais e muito mais, ao encontro daquele corpo dengoso, cheiroso e gostoso que estava à minha frente a me tirar do sério de uma seriedade que, de há muito, tinha ido para os cafundós do Judas!
O corpo procurou se encaixar mais ao meu – senti isso! O meu falo respondeu à chamada e se mostrou valente. As nádegas do corpo se abaixaram e subiram aproveitando o balanço (Bendito balanço, diga-se!) do fétido ônibus. Mesmo estando apertado pela justa calça, pude sentir o roçado do corpo à minha frente no meu.
Por ter consciência de que meu assédio estava agradando, baixei o braço direito até a altura da cintura do corpo à minha frente e apertei-o junto ao meu. O rosto que compunha o corpo se virou e presenteou-me com um belo e convidativo sorriso. Assustado, sai do ônibus no primeiro ponto de parada, muito distante de onde deveria descer!”
Epílogo:
Após a narrativa do Titino, ficamos parvos, boquiabertos. Querendo saber o resto da história, perguntamos em uníssono:
-E aí, cara? O que aconteceu? Por que você correu da mulher?
O Titino retoma a palavra.
-Aí é que está o problema: não era uma mulher! Era um tremendo (Devo e quero confessar:) e mais belo travesti que já tinha visto em toda minha vida – dissera!
Regado pelas boas louras (não eram “travecos”) geladas que estavam sobre a mesa, mandamos passar a régua e rimos da desventura do nosso querido amigo Titino.
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Imagem: Google