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Altamiro Fernandes
A vida em verso e prosa
Textos
A Semana Santa
 
A tarde era a de uma quarta-feira daquela que era a Semana Santa. O sol esmaecido se quedava nas cacundas das serras deixando o céu com um colorido de inegável beleza. Estou assentado ao lado do meu amado velho e inesquecível Avô – o querido e adorado Benício Barbosa Santiago. Excelente talabarteiro que era, estava terminando de tecer um laço de couro cru. Terminado o serviço, ele lava as mãos e se serve de uma xícara de café do fumegante bule à sua mesa. Outra me é oferecida que, ávido, aceito-a!

- Hoje, à noite, vou mandar os rapazes abrirem as porteiras dos currais, para soltar todo o gado no pasto. – dissera!
- Por que, vovô? – quis saber!
- Meu neto... amanhã – e na sexta-feira da Semana Santa – nenhum dos meus animais pode continuar preso nos currais. As vacas não poderão ser ordenhadas. A ordenha só será feita no sábado da aleluia. O leite a ser usado no consumo, durante este período, será este que fora feito na ordenha de hoje.

As saudades, hoje, fazem-me relembrar o tamanho respeito, então, existente para com as coisas sagradas. O homem de antanho respeitava muito mais ao nosso Deus que o homem de hoje. Nos campos e nas cidades, reinava grande o sacrossanto respeito ao sagrado. Hoje, todavia, o respeito não mais há!

Na cidade, os preparativos começavam na quarta-feira, quando os artistas se esmeravam na preparação dos materiais a serem usados na manhã de sexta-feira da Santa Semana. Para nós, crianças, a missão era a de buscar, nas serrarias, a serragem e, nas casas vizinhas, recolhíamos a borra de café. Eram as matérias a serem usadas nos afrescos que seriam feitos nas ruas.

Na quinta-feira, a partir da meia noite, os carros transitavam, mas, não faziam uso das buzinas – era considerado um desrespeito. As mulheres da difícil vida fácil “fechavam o seu ganha-pão” e ficavam trancadas até a chegada da meia noite da Sexta-feira Santa quando, então, já era o sábado da aleluia!

Ávidos que só, os homens ficavam na tocaia com um olho no relógio e outro nas quengas – à espera da abertura do “ganha-pão”. Doidinhos estavam para “malhar o Judas” que – impoluto, de cabeça erguida, forte e destemido – não temia ser afogado. Queria ser sacrificado!

Isso que, hoje, parece (Eu também acho que seja.) engraçado, era um grande sinal de respeito. Deus não condenaria as mulheres de vida fácil (Fácil? Humf!), mesmo porque, Ele já havia perdoado a diva cortesã Madalena, quando seu Filho – que por entre nós andou – já a perdoara em nome Dele que é o Pai!
 
A Sexta-feira Santa:
E é chegada a Sexta-feira Santa. Bem cedinho, lá estávamos nós os ajudantes dos artistas. A arte, aos poucos, ia tomando a esperada forma que a todos encantava: o sofrimento de Cristo ao carregar a sua cruz, os tombos que o atiravam ao chão, a crucificação e a esperada ressurreição eram estampadas nos afrescos em forma de um corredor que enfeitavam as ruas.

À tarde, a procissão começava o seu trajeto revivendo todos os sofridos passos de Jesus Cristo. Nas janelas, os tecidos de roxa cor eram colocados, como também, era a cor dos tecidos que, nas igrejas, cobriam as imagens.

Respeito havia – hoje, não mais há! A Semana Santa se transformou em mais um feriadão nacional, dentre os tantos outros existentes. Ela representa a ida para as praias, os campos de lazer, onde Deus nem é lembrado.

Mas, eis que o tempo passa. Do depois do tempo do meu amado Avô até o ano de 2019, muitas mudanças aconteceram e dentre elas, o grassar do desrespeito ao nosso Deus.

Todavia, no ano de 2020, surge o temível Covid-19 que faz o homem meditar por temê-lo. Tudo é fechado por ordem do virótico vilão. As praias, Campos de Lazer onde Deus nem é lembrado – fechados estão. Os lares se transformaram em igrejas, porque as igrejas estão fechadas. E o não “Covidado” Covid-19 veio e está fazendo o insensato homem repensar e volver o seu pensamento para o Divino Criador. Não somos animais irracionais. Temos, portanto, que fazer uso da nossa racionalidade, temos que voltar a dedicar o respeito ao Nosso Deus. Temos que ser como as prostitutas de antes que respeitosamente “fechavam o seu ganha-pão” na Sexta-feira da Paixão, só abrindo-o no sábado da Aleluia. Temos que reabrir os nossos pétreos corações para, então, darmos prova da nossa obediência ao nosso Deus!


Respeito é bom e eu gosto. Respeito é bom e Deus gosta muito mais!
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Imagem: Google
Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 30/03/2021
Alterado em 30/03/2021
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