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Altamiro Fernandes
A vida em verso e prosa
Textos
OS BALÕES DA VERGONHA
 
São 12h28min do dia 25 de janeiro de 2019. Restaurantes e lanchonetes de Brumadinho estavam abarrotados de clientes trabalhadores da Mineradora da Cia Vale do Rio Doce e dos turistas em visita à cidade. O burburinho – comum nestes ambientes de repasto – de repente, cessou. Um ensurdecedor barulho faz a todos se calar e, assustados, buscam entender o que estaria acontecendo. Melhor seria não terem buscado o entendimento para o acontecido. Melhor seria terem fugido. O tempo se escasseava. Agora, para muitos daqueles que, ali se encontravam, não mais poderiam encontrar com os seus entes queridos.

De repente, um mar de lama contendo 12 milhões de m³ (12.000.000 de metros cúbicos quadrados) de dejetos viera a todos soterrar. Querer fugir todos queriam, mas fugir para aonde, se para donde fugir não havia. E a torrente de lama da irresponsabilidade – muito maior que os 12 milhões de m³ – viera para soterrar as inocentes vidas de trabalhadores e turistas que visitavam a região.

Deve-se ressaltar que está localizado em Brumadinho – uma cidade com 38 mil habitantes, a apenas 60 quilômetros de Belo Horizonte – o INSTITUTO INHOTIM, sendo a sede de um dos mais importantes acervos de Arte Contemporânea do Brasil e considerado o maior Museu a Céu Aberto do Mundo. Todo esse acervo cultural esteve correndo o risco de ser – junto com a cidade de Brumadinho – varrido do mapa da cultura brasileira.

Hoje, dois anos passados, as solenidades que homenageiam as vítimas de uma tragédia anunciada são realizadas. Sim, o acontecido em Brumadinho não fora um aviso. Esse aviso ocorrera no dia 05 de novembro de 2015. A histórica cidade de Mariana-MG fora sacudida pelo rompimento da barragem com dejetos de mineração, varrendo do mapa o Distrito de Bento Rodrigues, causando a morte de 19 pessoas e um diversificado dano ambiental. Como em Brumadinho o “querer fugir todos queriam mas, fugir para aonde, se para donde fugir não havia.”

O aviso fora dado. A tragédia anunciada não chegou aos parvos ouvidos daqueles que deveriam agir. E se, por ventura, chegou, por certo as propinas tamparam os canais auditivos para nada ouvirem, vedaram-lhes os olhos para nada verem. E – obedientes por terem o proprinoduto sempre aberto – fecharam ouvidos e olhos para nada ouvirem, nada verem.

Vidas humanas e dos animais? Meio ambiente degradado? Nada disso importa, mas, convenhamos, deveria, sim, importar. Este é o mundo no qual vivemos – não há outro. Não se come o vil metal corruptivo. Não se respira o vil metal corruptivo. Os corruptos e corruptores sabem disso mas...

Culpados existem. Todos os poderes estatais – Legislativo, Executivo e o Judiciário – são todos culpados pelo acontecido. Como ficou provado, a Vale financiou as campanhas políticas de vários parlamentares que – pela “ética da corrupção que permeia no ambiente legislativo” – fizeram os lúmpens parlamentares ficarem “de bico calado” fazendo o famoso “ouvido de mercador”.

O poder Executivo tem, também, o seu quinhão de irresponsabilidade. A ele cabe – por intermédio do seu Secretário de Meio Ambiente – a fiscalização destas Empresas na degradação do meio ambiente. E isso não fora feito. Será que a mala corruptiva atuou, também, por lá? Se dúvidas há... duvido muito!

O Poder Judiciário, também, deve assumir a sua culpabilidade por meio do Ministério Público, por ser – o Quarto Poder, sendo o único, dentre os demais, independente e com atuação em todas as esferas na defesa do interesse do povo que, mediante a inércia dos demais Poderes Estatais – deveria tomar as providências cabíveis para fiscalizar estas empresas degradadoras, exigindo do Secretário do Meio Ambiente uma ação de fiscalização às mesmas. Todavia, pouco – ou talvez – nada fizera.

Tem que haver uma metástase para se acabar de vez com esta nefasta corrupção que grassa ininterrupta pelos poderes desta tosca e imunda república chamada Brasil com os seus ecoantes sil..., sil..., sil!... E tomem mais sil!...
 
Epílogo:
São 12h28min do dia 25 de janeiro de 2021. Aos ares ascendem os balões coloridos nas cores preta, branca e vermelha.
Preta – o luto pela prematura morte de 270 vítimas a se somarem com as mais 11 desaparecidas no lodaçal da irresponsabilidade.
Branca – num imensurável desejo para a vinda da tão sonhada Paz e que nunca mais aconteça outra tragédia como as acontecidas.
Vermelha – símbolo inconteste da vergonha. Vergonha que deveria existir na cara dos irresponsáveis que – pela inércia comprada pela corrupção – fizeram vista grossa, se tornando responsáveis pelas tantas mortes que aconteceram.

O poeta Carlos Drummond de Andrade profetizara ao dizer: -“Minas, não há mais José, e agora?”

Grande poeta/profeta Drummond – devido à nefasta atuação destas empresas mineradoras – de Minas não restará nem o próprio nome. Deixará de ser Minas Gerais para ser Buracos Gerais!

A Serra do Curral – marco histórico e geográfico de Belo Horizonte, Capital das Alterosas – está à mercê dos argutos olhos destas empresas de degradação ambiental. Querem retirar a Serra do Curral, transformando-a em um Buraco do Curral. Não estranhe poeta Drummond, quando soer acontecer, mesmo porque, acontecer vai!

Hoje, as solenidades estão sendo realizadas em um réquiem às vítimas deste genocídio da vergonha. As repórteres presentes à cobertura nãos se contiveram e, com voz embargada, choraram. O Corneteiro do Bravíssimo Corpo de Bombeiros – também, tomado pela emoção – quase não consegue executar o Toque de Silêncio – o silêncio dos inocentes! Os seus lábios tremulavam, sua boca queria se abrir para gritar o seu inconformismo. Não pode. Cala-se e toca.

Os Balões da Vergonha se ascendem às alturas levando nas suas cores o Luto pela dor, a Paz sonhada e a falta de Vergonha que deveria existir na cara dos irresponsáveis responsáveis pelo Genocídio Humano e Ecológico que tantas e sofridas dores causaram!
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 Imagem: Google
Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 26/01/2021
Alterado em 26/01/2021
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