Nesses tempos de Pandemia, nos quais estamos enclausurados, em cumprimento da pena imposta pelo Meritíssimo Dr. Juiz Covid-19, resta-nos – tão somente diga-se – nos comportarmos como enclausurados que somos e nada mais. Mesmo porque, manda quem pode e obedece quem tem juízo. Então, no caso em epígrafe, o mandatário é o Dr. Juiz Covid-19. Portanto – “para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao Covid-19 que fico” (Ops! Fico? Não!) obedeço!
Obediente, em casa fico. Lendo, assistindo filmes, escrevendo e, às vezes, viajando nas Asas das Minhas Elucubrações. E é isso que, ora, faço.
Nas minhas Asas estou embarcado e viajando. Chego ao meu destino, à minha adolescência. Lá estão a esperar-me, os amigos Dimelson, Luiz, Milton e o intelectual Darcy. Intelectual, porque era, dentre nós, aquele que estudava num dos melhores colégios da nossa cidade de Teófilo Otoni-MG: Colégio Joaquim Portugal. A nossa Rede Social era, na realidade, uma reunião à beira da calçada, onde, assentados no chão, sentíamos o calor humano – tão distante, hoje, nessas “redes sociais existentes” – que reinava bem e mais aconchegante entre nós!
E era do amigo Darcy Rodrigues da Fonseca, que ouvíamos a síntese de uma aula de Química que ele nos transmitia e que fora dada pelo seu professor, naquela manhã. Com a palavra o colega e “palestrante” Darcy:
-“Amigos, vocês sabiam que os gases intestinais são inflamáveis? Pois é, são sim, bastante inflamáveis”.
Os nossos indagativos olhares passeiam entre nós. Um incontido riso teima em aparecer nas nossas faces. Milton – sem conter a curiosidade comum em todos nós – se adianta em sua pergunta:
-Quer dizer que, se soltarmos um pum e riscarmos o fósforo, esse gás vai pegar fogo?
-Vai! Responde secamente o palestrante Darcy, completando. Ele, o gás intestinal, é composto por uma fórmula química CH4, ou seja: 1 Carbono e 4 hidrogênios. O Hidrogênio, bem como, o Acetileno, Amoníaco, Propano e Metano, são todos conhecidos como gases inflamáveis. Estes ardem quando misturados com um oxidante, e aproximados de uma fonte de ignição. O “efeito labareda” ocorre devido à presença do metano, gás inflamável, naquele arzinho desagradável que expelimos. A chama nada mais é do que a reação entre o metano e o oxigênio. Mas, nem sempre é possível queimar as calças.
Por ser apenas parte do que soltamos, após comer repolho, por exemplo: o metano, produzido pelas bactérias durante a digestão de alguns carboidratos no intestino grosso, pode aparecer em quantidades insignificantes, quando soltamos um “pum”. Ainda assim, não recomendamos ficar testando. Se você soltar um pum sobre uma lamparina – fonte de ignição –, verá que os gases emitidos se inflamarão.
A aula termina, as brincadeiras começam. Na cabeça do Milton as coisas andam fervilhando pela curiosidade causada com a palestra científica. A nossa Rede Social é desfeita com o agendamento de nova reunião para o dia seguinte.
Dia seguinte chega e lá chegamos. Estávamos reunidos em torno do calor humano da nossa Rede Social. O Milton é o último a chegar. Notamos que, havia no seu jeito e modo de olhar, que algo havia de novo. E é dele a fala:
-Darcy, eu tentei fazer a experiência, mas, não deu certo.
-O que deu de errado, Milton? – indaga Darcy!
-Ontem, eu peguei a lamparina acesa e fui para o mato fazer o número 2. Arriei a calça e me posicionei em cima da lamparina e tentei soltar um “punzão, que estava guardado”. Mas, o pior de tudo, é que havia me esquecido que estava com um baita piriri. (Desnecessário dizer que a galera estava, já, quase morrendo de tanto rir – mas digo: Estava sim!) Prossegue o Milton na sua descritiva experiência científica:
-Galera, ao invés de sair o CH4 saiu foi o H2O misturado com tudo a que tinha direito. A lamparina se apagou com a água e os demais acompanhantes que vieram juntos!
O riso explodiu entre nós. O palestrante Darcy em si não cabia. A nossa Rede Social – se vista de longe pelos passantes – haveriam de dizer que éramos um bando de loucos, como loucos são todos estes que usam as suas redes sociais sem calor humano, fria como as máquinas que eles manuseiam.
Desvio olhar e atenção para as Asas das Minhas Elucubrações. Tenho que retornar à triste realidade da enfadonha vida. Devo retornar ao futuro atual presente. Despeço-me dos indeléveis amigos, embarco nas minhas Asas para empreender a viagem na esteira do Túnel do Tempo.
Todavia, nem tudo é mote para tristezas. De bom, trago estampada na face o sorriso – largo sorriso – pelas lembranças das aventuras vividas e o hilário ‘modus sui generis’, encontrado pelo amigo Milton para apagar a lamparina.
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