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Altamiro Fernandes
A vida em verso e prosa
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                                                       *BRALANDA*
Introito:
Não poderemos permitir que a insensatez governamental dos nossos dias, venha a repetir os mesmos erros dos parvos e venais governantes de antanho, ao destroçarem a Mata Atlântica e desertificar os Vales do Mucuri, Jequitinhonha e do Rio Doce.

Se destruírem a Selva Amazônica estarão desertificando o Brasil!

A cegueira do Homem diante do “Fio Cego” de um Machado, nos Leva a um degringolado futuro. (Pensador Vantuilo)
 
Parte I:
Oh, meu outrora, lindo Vale do Mucuri! Vale de, então, maviosas e verdejantes florestas seculares. Que e quantas saudades sinto de ti! Recordo-me das torrenciais chuvas a inundarem os teus caudalosos rios (Então, rios havia!), riachos, encostas e desfiladeiros.

Ah! Quantas e nostálgicas lembranças hoje tenho do meu querido e amado Rio Todos os Santos! Era um rio garboso pelo fato de o teu nome originar-se dos teus afluentes que – tendo nome de vários Santos – nele desaguavam. Era um rio valente, altaneiro, imponente e possuidor de uma piscosidade rara. E ele serpenteava impoluto, com as límpidas águas, pelas cidades do Vale querido. Hoje, contudo, nada mais dele restou. Tornou-se um envergonhado esgoto a céu aberto. De Todos os Santos para Todos os Esgotos, foi somente um passo. Um passo errado dentre os tantos errados passos dados pelo homem devastador.

Ah!.. Meu então, doce Vale do Mucuri – hoje, amargo e de lágrimas! Como chovia no teu abençoado solo!... As chuvas, também, eram de bênçãos... as águas delas oriundas eram celestiais. Hoje as chuvas – raras, diga-se – são de veneno – “abençoácidas” pelos homens. Às abençoadas e fecundas chuvas de outrora, o meu Vale retribuía com uma densa vegetação que, alegre, a saudava mantendo sempre fértil o teu, então, opulento rincão. As alegres risoferácias em ti abundavam: As Perobas, Jacarandás / Ipês e Jequitibás/ Formavam um quarteto poético/ De beleza singular!...

Oh!... Meu então, lindo Vale do Mucuri!... Quão belo era ver o argênteo luar refletindo nos arbustos e copas das gigantescas árvores da tua – outrora – luxuriante Mata Atlântica. O gorjeio das aves noturnas, o cricrilar dos vadios grilos saltimbancos pela relva macia, os frêmitos das feras caçadoras e a fuga célere das caças que, às vezes, capturadas eram! O bailar vagabundo dos noctívagos pirilampos que formavam um harmonioso conjunto regido pela maestrina Mãe Natureza, no afã de adornar-te com ímpar e singular beleza que somente a música consegue inocular no mais pétreo dos corações. Na minha pueril imaginação, vislumbrava as Fadas, Gnomos, Sacis, Lobisomens e Mulas-sem-cabeça que, diziam, nas tuas florestas habitavam.

E eis que surgem os predadores. Munidos de machados e serras imensas, começaram a devastar-te as entranhas. As gigantescas árvores de colossais espessuras quedam ceifadas, inertes sem vida, levando no seu lúgubre tombar outras inúmeras formas de vidas animal e vegetal.

O predador grita: - Madeira!... Quer, com seu grito assassino, alertar que uma árvore (mais uma, outra mais, e tantas mais outras) está caindo. O seu grito, que deveria ser um alerta aos homens contra tão hedionda hecatombe, perdeu-se na floresta assassinada. O predador ri – exulta! O crime contra a natureza está perpetrado. Repetindo Pilatos, covardemente, lava as mãos. A Mãe Natureza chora – copiosamente chora! Os predadores não eram homens: eram cupins humanos. Eram animais sem razão com formatos racionais, mas sem terem racionalidade. E os gritos ensurdecedores de: -Madeira... deira... eira... eira... são tantas vezes repetidos que faz parecer aos predadores estarem num Vale do Eco.

As tuas árvores, Vale querido, foram arrastadas, transportadas para as inúmeras serrarias que proliferaram na região, mormente nas cidades de Teófilo Otoni, Carlos Chagas, Nanuque e Governador Valadares. Os predadores sorriam ao verem o cortejo fúnebre indo ao encontro do tétrico destino: as inexoráveis serrarias. Contudo, não eram árvores. Era o atro destino do homem que, como se fora gado, era levado ao matadouro onde por muito dinheiro seria trocado. A Mãe Natureza a tudo assiste indefesa e põe-se a lamentar o obscuro futuro que o homem estava cavando para si próprio. Os féretros passam. Nos ataúdes vão árvores. Nos ataúdes vão vidas ceifadas. Em cada féretro vai – para ser soterrado – o destino do irracional bicho homem.

Os animais – mesmo não tendo para aonde – podiam correr. As árvores? Não!... Para eles a Matriarca Natureza implorava, rogava:
- Fujam pequeninos, fujam!... Lá vem o bicho homem!... Corram, fujam!...

Querer fugir até que queriam, mas fugir para aonde se para donde fugir não tinham?

E os animais que eram entre si predadores e caça – num perfeito e salutar convívio de equilíbrio ecológico – se transformaram em, tão somente, caça. Como uma horda de bárbaros Hunos sob um Hitleriano comando de conquista destruidora, os homens desertificaram-te, Vale querido. Homens e destruição eram unidos como se irmãos siameses fossem, tendo como fito destruir a natureza.

As cidades, que sob a égide da tua desgraça prosperaram (Oh! Meu Vale querido!) são, hoje, verdadeiros bolsões de miséria, fome. São arremedos de metrópoles a mendigarem dos poderes públicos os minguados – e cada vez menores – recursos para sobreviverem. E o meu querido Vale se tornou um lugar onde a vida não tinha nenhum valor, mas, a morte – é claro – tinha os seus caríssimos preços: a sepultura de uma região e a desgraça de um povo.
 
Parte II:
A revolta é tamanha que faz-me divagar. Divago, divago e – claro sei – que devo explicar o que era a BRALANDA. Era na realidade, uma famigerada arapuca sob a forma de uma multinacional, formada pelo Brasil e a Holanda, numa negociata lucrativa – para eles, os corruptos políticos, evidente! Daí o nome fatídico: BRALANDA. Os megas empresários balouçaram nas fuças dos nossos governantes alguns pacotes das verdinhas, convencendo aos usurários e parvos a entregarem o nosso verde. E o nosso verde se foi. Vermelha ficou a terra desnuda. Todavia, a cara dos políticos – idiotas da objetividade, dilapidadores da natureza e do erário – vermelha não ficou. Faltava-lhes aquilo de que até hoje carecem: Vergonha!

As minguadas verdinhas aqui deixadas, também, se foram. Foram para serem plantadas nos férteis e verdejantes campos dos inúmeros Paraísos Fiscais.

A vegetação se foi. As árvores também. E sem elas, as chuvas se foram... desapareceram. Seguindo ao pé da letra o Art. I da Cartilha Predatória que diz... “só estar onde puder dilapidar a natureza” – e por nada mais restar para ser dilapidado – a Bralanda dilapidou, arrasou e se foi. Foi deixando atrás de si um rastro de destruição irreparável no meio ambiente. Foi deixando crápulas mais ricos... região mais pobre... povo mais desgraçado e faminto. Faminto até de justiça.
 
Epílogo:
Hoje, graças ao desenfreado desmatamento imposto a ti meu Vale, as águas que te molham o solo não vêm do céu, mas, e sim, dos olhos sofridos de um povo traído.

Animais silvestres não há mais, homem.
-E agora?
Densas matas... florestas... não há mais, homem.
-E agora?
Chuvas torrenciais - só as de lágrimas – não há mais, homem.
-E agora?
Águas?... Nem as de março há mais, homem.
-E agora?
Breve, muito breve, homem não mais haverá... homem.
-E agora, homem?... E agora?...
Imagem: Google
Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 07/10/2020
Alterado em 08/10/2020
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