PUM
O nordestino diz – no seu sempre gostoso modo de falar – em relação ao Pum: “- Eita bichim danado da peste, sô!” “Esse cabra da peste, quando sai, (Vixe Maria!) mata inté calango da caatinga com a catinga do fedor!”
Mas, o que vem a ser o Pum? Na música, é a onomatopeia do encontro da baqueta com a pele que envolve instrumento de uma bateria – surdo, bumbo e caixa, dentre outros! Trata-se, portanto de um som seco, um pouco aveludado, algo soando tipo assim: - ‘Pum, pum, pum, pum!’ Gostoso, ritmado, que dá à música o tempero exato para o remelexo dos quadris que somente é encontrado no corpo e na malícia da mulher brasileira! Contudo, e em se tratando do organismo animal, ele, o Pum, é – nada mais, nada menos – que o grito de liberdade dos oprimidos gases, fruto da alimentação ingerida, ou – como bem se diz na baixaria – ‘é o suspiro de um ânus apaixonado (ops)!’
Esse infeliz era, até pouco tempo, visto como sendo um palavrão. Hoje, não! Está liberado geral. No teatro, cinema e televisão, ele já é encarado (Ufa! Encarar essa fera é dose pra leão!) como uma força de expressão, numa bucólica peça humorística! A plateia ri e, às vezes, aproveita o ensejo da risada para, soltar – de forma discreta e baixinha – o seu prisioneiro. Então, ele, alegre, lépido e fagueiro, se espalha pelo ambiente rindo daqueles que dele riam, ao vê-los tapando as narinas e dizendo: - Misericórdia, Senhor Deus! Isso não é um Pum. Isso é um telegrama da merda anunciando a sua chegada – ou cagada, sei lá!
Vale uma ressalva: Merda e Bunda faziam – há bem pouco tempo, assim como o Pum – parte de um vocabulário tido e havido como sendo esdrúxulo. Todavia, Merda é, hoje, uma forma de desejar – aos artistas, que adentram o palco para dar vida aos personagens –, ‘muitas felicidades e sucessos mil’. E eles dizem:
-“Merda pra você!”
-“Obrigado!” Emocionado e entre incontidas lágrimas agradece:
-“Merda, muita Merda pra você também!”
A Bunda, digamos, era um tabu! Contudo, ela, a Bunda, está (Menos a minha, é claro!) liberada geral! E, já que se liberou a Bunda, o Pum – por ter como vizinha a sua porta de saída – viu-se, também, no direito de se libertar, sair do seu Carandiru, no momento que bem quisesse. Era, portanto, o insofismável direito adquirido da ampla defesa e do contraditório, sem a necessidade do habeas corpus delegado por Gilmar – aquele mesmo, lá do Casão Maior!
Ah, amigos meus! Não tentem prender a quem quer se libertar por julgar-se inocente ser! E ele, coitado, é um inocente a gritar dentro do seu Carandiru Guarda-comida: -“Eu quero sair!”
Nessas condições, segurá-lo – querer prendê-lo para, então, libertá-lo em local mais apropriado – é um perigo. Ele é valente e luta pelo seu desejo e direito de ser liberto. Não há, pois, nenhum Tribunal de Exceção que irá decretar-lhe a sentença condenatória de pena mínima ou, muito menos, à prisão perpétua – será um desastre pior, bem pior que a 3ª Guerra Mundial.
O homem o fez! Contudo, não lhe ensinou as convenções sociais de boa educação. Portanto, ele se sente no direito – e dele faz uso, claro – de ir e vir.
E é ai que as coisas se complicam. Estando você em nobilíssimo jantar, em um encontro social ou de negócios, junto àquela garota (Ou garoto, se for o caso, mesmo porque, ele, o Pum, não distingue o gênero de quem o aprisiona!) que você tanto almejava conquistar ou, simplesmente, dentro de um elevador, ele dá um rosnado, um rugido – nada amigável, diga-se – do temível sinal de: -“Quero sair”!
Nesta altura do campeonato você, então, se assentado estiver, se remexe na cadeira ou sofá, tendo a utópica esperança de segurá-lo. Ledo engano! Ele voa por dentro da sua barriga de um lado para outro! O Grosso e o Delgado, ao que tudo indica, parecem ter iniciado a Terceira Grande Guerra! Os gases, se enroscando lépidos por entre ambos, provoca um surdo rugido parecido ao de um leão ferido. E esse rugido é um alerta de perigo. Estando de pé, você cruza as pernas, flexiona os músculos da Bunda na tentativa vã de fechar a saída da casamata. Mas – e como a Bunda já está liberada – a liberdade de ir e vir do Pum, não vai precisar de um ‘habeas corpus’ – concedido pelo Meritíssimo Gilmar – para se libertar da prisão. Nesse caso você pensa: -“Vou soltar esse desgraçado, aos poucos, tomando todos os cuidados para que ele não grite, rosne ou ronque alto”. Solto, aí vem o alívio. Ele saiu baixinho. Não rosnou – ronronou! Não gritou – sussurrou! Todavia, o pior estava por vir porque ele, quando é libertado nestas condições (Ah!... meus amigos!), fujam, saiam de baixo! Mãos são, discretamente, levadas às narinas! Olhares interrogativos perscrutam o ambiente no afã de saberem quem seria o mal educado. Se houver no ambiente um negro (ops!) ‘afro descendente’, ele já fica de orelha em pé e pensando: - ‘Vai sobrar para mim!’
O medo, porém, de vir a ser declarado culpado (Há um adágio que diz: A galinha que cacarejar primeiro é a dona do ovo!) faz, os justos e os pecadores suportarem a catinga do fétido e felicíssimo Pum que esparge pelo ambiente sem, contudo, denunciar o dono – ou dona, sabe-se lá! – do ‘nenê fedorento!’
Numa crônica anterior (Colonoscopia) descrevo os horrores pelos quais passara o meu amigo Sgt. PM Waldir Branco. Relembro-os! Colonoscopia é um tipo de exame do aparelho intestinal. Para ser realizado, é necessário que o paciente esteja com os intestinos livres de toda e qualquer substância sólida.
Antes, o paciente deve ser paciente mesmo. Ele deverá estar tomando, tão somente, um líquido de cor turva, por um determinado tempo, que irá promover a faxina interna. O médico recomenda ao paciente: -“Você só poderá ingerir este líquido e mais nada!” “Quando o seu cocozinho (Esse termo “cocozinho”, é ótimo!) estiver saindo da mesma cor do líquido, aí, sim, faremos o exame!”
Carece, todavia de explicação: Para que se possa fazer o exame, o paciente fica naquela posição que, dizem, Napoleão perdeu a guerra – todos sabem qual é! Em seguida, é introduzida, no reto, uma mangueira (Graças ao Bom Deus, eu não sei qual a grossura nem o comprimento!) que, ligada a um compressor, injeta ar comprimido na barriga do examinado. E o coitado vai, a tudo, suportando sem poder nem dar uma gemidinha. Há – ou deve haver, talvez – quem goste de uma “mangueira” (Ops!) numa esdrúxula situação como esta, mas, convenhamos, deve ser horrível!
Ligado o compressor, começa o sofrimento do coitado. A barriga vai inchando como um balão (Assim me descrevera o amigo Waldir.) de festa ou de voo balonístico. À medida que o ar vai entrando, o examinador vai instruindo ao coitado paciente:
- “Se segura! Não deixe nada escapar! Está quase pronto – cuidado!” Nessa altura do campeonato, o infeliz já está roxo, tamanha é a vontade de disparar o canhão que, nesse momento, seria mais potente que os de Navarone.Terminado o exame, o médico retira a mangueira e diz: “Vá ao banheiro e... manda brasa!”
O coitado sai em desabalada carreira e, antes de ao banheiro chegar, o incontido pum faz disparar o canhão com os seus mortíferos morteiros. E a onomatopeia dos tiros se esparge pelo ambiente provocando risos até nos mais experientes e acostumados examinadores.
Deve-se informar a existência de outra explicação: Esses são os chamados Puns Científicos. Barulhentos, porém, não fétidos! E as denominações para o Pum são as mais variadas possíveis. E vão elas, desde os mais barulhentos e escandalosos, até aos mais “educados” – silentes! E são nesses últimos que mora o perigo! São os mais fétidos e insuportáveis!
(*) Há, também, os chamados ‘Puns Culturais’. São assim chamados por serem, digamos: bem metidos à besta! Cultos que são, recebem a pomposa denominação de Flatulência. E vão mais além: dizem que vêm do latim “pedere” que quer dizer “quebrar o vento, impedir”. (Pode o intelecto suportar isso?) A palavra erudita pódex é sinônimo de pódice. Daí, chegamos à seguinte conclusão: pódex ou pedere, como queiram, é, para nós, o danadinho e fedorento Peido ou Pum. E, na altura do campeonato, vale uma pergunta:
(*) Pum: Ventosidade anal, ruídos ou não; peido, traque! Fonte: Instituto Antônio Houaiss; Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, aprovado pela Academia Brasileira de Letras; Editora Objetiva, Pág. 2.334. Peido: Pág.2.168 do mesmo Dicionário.
-Por que ele, também, é conhecido como peido? Porque ‘peida’ é ânus ou conjunto de nádegas, local de onde o danadinho tem a porta de saída! Estamos ditos – penso!
As piadas, envolvendo o Pum, são inúmeras – não as contarei por não virem ao caso! O quê? Você quer? Ok! Está tudo bem! Bem, e já que você insiste – será? – contarei uma:
-Em um elevador estavam: um nascido no além-mar (um patrício) e um fleumático casal inglês. De repente, a fera Pum rosna na prisão do portuga. Aí, ele pensa: - “Ai, meu Jisus – o que fazere agora?” Atônito, ele ora por São Jorge, padroeiro da sua amada terra lusitana, implorando-o que faça o elevador chegar, depressa, ao destino. Precisava, com urgência, encontrar um banheiro ou um local onde não houvesse assistentes. O Santo – montado no seu alazão – lutava, ferozmente, contra um dragão valente tanto quanto o Pum do portuga. E, por estar atarefado, não mandou um anjo, ou – nem mesmo – uma fada madrinha para ao patrício socorrer!
A fera é libertada. E por ter sido aprisionada por tanto e indesejável tempo, a fera Pum se libertou, gritando a sua insatisfação! Um alto e em bom tom, urrou: “Pruuurrr, Krash, Pruuuurrr, tipo assim: Rasga as pregas!” O mau cheiro fechou o tempo do fechado ambiente. Revoltado, o inglês retruca:
-“A senhor serr muita mal educada! Non poderria soltarr essa Pum fedorrento no frrente do meu senhorrra!”
-“Me desculpa – responde o lusitano – eu não sabia que era a hora e vez da sua esposa peidar, soltar o Pum dela!”
Pois é, amigo, não prenda o Pum! Além de provocar males ao seu organismo ele – tão somente diga-se – quer ter a sua “liberdade ainda que tardia” respeitada!
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Imagem: Google