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Altamiro Fernandes
A vida em verso e prosa
Textos
           
Cena de um pé de dinheiro que Pedro estava vendendo para um incauto.


MALASARTES E O DUELO COM A MORTE
Introito:
Às vezes, “quando a saudade bate forte”, busco o meu transporte especial – as Asas das Minhas Elucubrações – para, então, volver a um distante e saudoso passado. E ao passado cheguei! Agora, estou assentado ao lado do meu amado avô, “matando as saudades” – as enormes saudades que sentia do meu amado e querido velho – Vovô Benício. Queria ouvir as suas histórias, casos e “causos” que ele, sabiamente contava.

Rio da história contada pelo meu amado velho. Rio das espertezas do personagem. Rio das ingenuidades dos enganados. E foi neste cenário composto por um personagem esperto, somado a uma plêiade de personagens ingênuos, que busquei inspiração para escrever uma satírica história. (Abro um parêntese para dizer que, hoje, todos os vovôs são – e continuarão sendo –sábios e pacientes. Sabem contar casos e causos. Todavia, os obtusos netinhos “estão mais ligados” ao modernismo dos eletrônicos. Estão perdendo tudo que de bom e sapiente há nos vovôs!)


E foi do vovô que ouvi a história que tem como personagem Pedro Malasartes. O Pedro – devo salientar –é um personagem do folclore português que, aqui aportou trazido pelas mãos dos patrícios d’além mar. Talvez (ouso dizer uma dolorosa verdade), seja, esse o motivo de sermos um país de tantas e insofismáveis falcatruas – herança inconteste do Pedrinho d’além mar!

E é Pedro Malasartes o personagem do meu conto. Para tanto, pincei-o do folclore português, dando-lhe uma vida efêmera para o meu modesto conto. Vejamo-lo, pois, em ação:
O Pedro era conhecido, pelo fato de a todos gostar de enganar com as suas astúcias. Astucioso (Ardiloso, dizia o meu amado Avô!),tinha sempre, uma resposta para todas as suas artes –daí, o seu nome Pedro Malasartes! E ele se vangloriava disso ao se proclamar o “bam-bam-bam”, o mais esperto dos mortais com a sua capacidade de enganar a reis e súditos, a Deus, ao diabo e ao mundo.

Os que o ouviam, riam e aplaudiam por reconhecer no Pedro esta inusitada capacidade de enganar as pessoas. Os comentários chegaram a tal ponto de dizerem que o Pedro Malasartes seria capaz de enganar a própria Dona Morte. Então, perguntaram-lhe certa vez:
- Pedro, no dia em que a Dona Morte chegar, você seria capaz de driblá-la?
Rindo, o Pedro respondeu com a empáfia de sempre:
-Claro que sim! Ela, a “caquética velhinha”, comigo não tem vez! Passarei uma rasteira nela para, então, sair ileso dessa porfia! Todos riram e ressoriram.

Todos? Não! Assentada a uma mesa estava uma senhora esquelética, hirta, cara enrugada pelo inexorável tempo. Driblando a aparência frágil, ela, ligeira, se aproxima do Pedro, se apresenta como sendo a Morte e lhe diz:
Pedro – como todos os demais – a sua vida chegará ao fim. Daqui a 15 dias, às 00h, virei lhe buscar. Dito isso, a “Velhinha Dona Morte” se afasta.

Pedro amarelou. A plateia, tensa ficou. E agora, o que será do Pedro? – elucubraram! Como o Pedro vai se sair dessa? – Indagaram! O que será do nosso Pedro? – Pensaram!
-Não se preocupe galera. Sou esperto o bastante para mandar para escanteio esta tonta e tola Dona Morte. Não será desta vez que o esperto e hábil Pedro, vai partir. Aplausos, dados pela fanzoca galera, são ouvidos!
 
Epílogo:
Pedro se afasta da plateia. Na astuciosa cabeça um plano de ação contra a Dona Morte começava a ganhar forma. O plano, então começa a ganhar, não só a forma, mas o corpo necessário à execução. Antevendo a vitória, o astuto Pedro ri e, egocêntrico, diz aos seus botões: - Sou invencível!

O tempo, célere, passa. É chegado o fatídico dia. Pedro começa a colocar o seu plano em ação. Promove uma tremenda Festa de Arromba na qual todos os convidados deveriam estar fantasiados. Duvido que a Dona Morte vá me reconhecer – pensou o Pedro!

23horas! Pedro se afasta dos convivas, se tranca em seu quarto, e coloca uma fantasia de palhaço, previamente preparada –fazia parte do seu plano –e volta ao salão de festas.
Faltavam 05 minutos para a chegada da “velhinha”. O Pedro ria, já antegozando a vitória.

Os próprios convidados não reconheciam o palhaço que, ora, adentrara na festa! Faltavam dois minutos para a meia noite, hora marcada para o encontro fatal. Uma elegante senhora adentra o Salão de Festas. O relógio segue o seu marcante caminhar marcando o tempo. Falta um minuto para a meia noite. A elegante senhora se aproxima do palhaço, toca-lhe o ombro e pergunta:

-O senhor conhece o Pedro Malasartes, palhaço? (E o relógio continua a marcar o tempo!)
-Não senhora! Não o conheço – mentiu o Palhaço Pedro Malasartes, como mentira o Pedro Pescador ao negar Jesus Cristo!

A Dona Morte – putíssima da vida – coloca a mão no ombro do Pedro (E o relógio dizia: - Faltam cinco segundos para a meia noite!) e diz:
-Palhaço – sinto muito, viu? Tenho muito trabalho que fazer e não posso perder o meu precioso tempo. Como o Pedro Malasartes não se encontra aqui levarei você mesmo!
E o relógio marcou o fatídico tempo: meia noite! E o Pedro (palhaço) Malasartes cai inerte –“mortinho da silva”– na última cena da sua teatral vida de enganador!

Os convidados ao verem o desconhecido Palhaço, inerte e caído no chão, se apressam na tentativa de socorrê-lo! Não era mais, possível fazê-lo. Estava morto. Retiram-lhe a maquiagem e, só então, reconhecem – na figura do anônimo palhaço – o amigo Pedro Malasartes! Vale salientar: Pode-se enganar a uns por uns tempos, alguns por alguns tempos e, até mesmo, a todos por certo período de tempo. Mas enganar à caquética velhinha Dona Morte – é impossível: Ela é uma danada de espertinha!

E neste titânico: MALASARTES E O DUELO COM A MORTE, ganhou a “Velhinha Caquética” porque ninguém consegue enganá-la – nem mesmo o ladino Pedro Malasartes!
Se na Vida a experiência é tudo, provado está que – com a Velhinha – na Morte também é!
 
Pedro Malasartes, Malazartes, ou das Malasartes, ou ainda Malasarte e Malazartes, é um personagem tradicional da cultura portuguesa e da cultura brasileira.
Segundo Câmara Cascudo, "Pedro Malasartes é figura tradicional nos contos populares da Península Ibérica, como exemplo de burlão invencível, astucioso, cínico, inesgotável de expedientes e de enganos, sem escrúpulos e sem remorsos." A menção mais antiga do personagem é na cantiga 1.132 do Cancioneiro da Vaticana, datado do século XIII e XIV. (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre)
 
 Imagem: Google
Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 01/09/2020
Alterado em 01/09/2020
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