*MODA E MODISMO*
Interessei-me pela moda. Contudo, devo ser explícito: o meu interesse não tem como objetivo tornar-me um – digamos – expert no assunto. Visa isso sim, evitar as costumeiras gafes. Já as cometi em demasia – confesso! O meu primeiro contato com a matéria Moda, deu-se por intermédio de uma ótima professora: Josélia, é esse o seu nome. Ela lecionava as matérias que versavam sobre etiqueta e moda. Estudava, à época, no SENAC, onde então, fazia o curso de Administração Turística. A mestra em epígrafe e os meus – já costumeiros, diga-se – “enganos”, fizeram-me abrir os olhos e ver o quão troglodita era e sou.
Quero e devo civilizar-me – pensei com os meus indefectíveis botões! Quis partir dos primórdios da matéria. Como primeira providência, clamei por socorro aos meus inseparáveis amigos: Michaelis, Houaiss e Aurélio. Saio em busca dos mesmos. Encontro-os. Pergunto-os: - O que é moda? -“É uso, hábito ou estilo geralmente aceito, variável no tempo, e resultante de determinado gosto, ideia, capricho e das interinfluências do meio” – disse-me Aurélio!
Houaiss fora mais eloquente e disparou na dissertação dizendo: -“É uma maneira, gênero, estilo prevalente – de vestuário, conduta etc!...” E prossegue: “É conjunto de opiniões, gostos e apreciações críticas, assim como modos de agir, viver e sentir coletivos, aceitos por determinado grupo humano, num dado momento histórico. É um conjunto de usos coletivos que caracterizam o vestuário de determinado grupo humano num dado momento. Exemplo: o vermelho está na moda; a minissaia está saindo de moda e...”
-Tá bom!... Obrigado! Isso já me basta – disse, pondo fim às eloquentes explanações do amigo Houaiss! Se o deixasse prosseguir nas suas dissertações, ele – por certo – se enfurnaria noite à dentro, falando sobre esse apaixonado tema: Moda! Nada perguntei ao Michaelis por ser ele um flegmático inglês. Fiz, contudo, uma pergunta coletiva:
-O que é modismo? Na resposta foram unânimes:
-“É o que está na moda, tendo, portanto, caráter efêmero. Fórmula, lugar comum, locução ou palavra da língua formal ou informal, correta ou errônea, cujo emprego, num dado momento, se intensifica como uma moda.”
Agradeço-os pela ajuda dispensada e, gentilmente, encaminho-os à minha estante para um merecido descanso. Ponho-me a pensar no quão difícil é o estar na moda. Amanhã irei perturbar a minha mestra com um amontoado de perguntas: por exemplo, como me vestir bem sem agredir as pessoas? E isso me fez pensar em algo diferente e, mesmo nada entendendo de Moda, arrisquei uma opinião baseando-me no que vejo pelas ruas, praças e avenidas.
O dissílabo “cruzes!” passou pelas cordas vocais e saiu de minha boca – sem que pudesse sofreá-lo – para completar as minhas elucubrações: - como as pessoas se vestem mal!... E isso é um fato. As mulheres, coitadas, são vítimas – não da Moda – mas, de um exagerado modismo. E isso, na maioria das vezes, as levam a cometer tantas gafes pelas ruas, salões e em locais de trabalho.
Há, no momento, a Moda da calça Saint Tropez (cintura baixa). E ela, a calça, tem, na maioria das vezes, um zíper com, no máximo, quatro centímetros, senão tanto. Dali para cima, a calça deixa à mostra o famoso Caminho da Felicidade que consiste no prolongamento dos pelos que nascem no umbigo e seguem rumo à região pubiana – daí o seu nome, Caminho da Felicidade! E aí, amigos e amigas, que o “bicho pega” feio. (Vale abrir um parêntese que tem, como fito, ser explícito: o “bicho pega” é um modismo linguístico, uma gíria!) Explicado está, prossigamos, pois!... Aquelas que têm uma barriguinha sarada... “corpítio” (outro modismo linguístico) de violão, bumbum arrebitado e dourados pelos ( as “gramas” do verde e exuberante Caminho da Felicidade) devem, é claro, mostrá-los. E, de olhos rútilos e lábios trêmulos, vamos vendo-os, delirando e babando na gravata. E lá estão elas a mostrarem – não só o Caminho – mas, a própria e tão perseguida Felicidade. Todavia, há um importante detalhe: se o pretendente que a elogia ou a devora com os olhos for um Zé Mané, ela, a Maria Chuteira ou – quem sabe? – quaisquer das outras Marias (Pagodeiras, Sertanejas, Batalhões e Breteiras), ficam “putas da vida”, e têm a imediata preocupação em abaixar a minúscula blusa, como a dizer: -“Sai fora, Mané! O filé, aqui, não é para o seu bico!”
Ah, meus amigos! Contudo, se o galanteador for um pagodeiro, um jogador de futebol, um peão ou um militar de patente... bem, aí o papo é outro e tudo pode rolar, inclusive o fato marcante da blusinha e a saia subirem o mais que possível, como se possível isso fosse.
Mas, cá pra nós, quem não está com nada no balaio, deveria esconder-se ou, no mínimo, ligar o desconfiômetro, vestindo-se corretamente ou, no mínimo, com um mínimo de decência. Com a palavra o poetinha maior, Vinícius de Morais: -“que me perdoem as feias, mas, beleza é fundamental”!..
Existem mulheres que, para vestirem uma calça da moda, e por estarem com uma (Vamos fazer uso do eufemismo?) protuberância abdominal, se deitam na cama, espremem-se a ponto de quase explodirem para fechar o minúsculo zíper. A mãe chega em socorro e, depois de exasperados esforços, grita pelo marido. Ele, interessado em que a filha se mostre o mais que puder mostrar, ajuda na difícil labuta de colocar aquele amontoado de banha dentro da pequeníssima veste. Puxam daqui, dali. Estrebucham, gemem. Sentindo-se incapazes de solucionar o hediondo problema, clamam por socorro:
-Zezinho!... Venha aqui, menino, para nos ajudar a vestir a sua irmã!.. Zezinho chega e esboça um largo sorriso que mostra o siso, por ver tamanha parafernália. À guisa de ajuda, ele sobe na barriga da mana, pisoteia aquele Everest de tecido adiposo. Enfim (Ufa!), aquilo tudo entra na coitada e minúscula calça. O pai queda ao lado da cama bufando, tamanho era o cansaço. A coitada mãe tomba desfalecida, vencida pelo esforço desprendido. As costuras – quase explodindo por conterem tanta banha – parecem pedir: -Acudam-me!..
A tonta vaidosa, se contorcendo toda e com dificuldade até para respirar, se levanta e diz: -Ai meu Deus!... Manhê, tô com vontade de fazer xixi!...
Um triplo grito de um uníssono e ensurdecedor “não”, ecoa pelo ambiente e é seguido pela observação enfática da mãe ao dizer:
-Sem essa, tá? Se você tirar esta calça, vai ter que se virar, sozinha, para vestir-se novamente. Conformada, a vaidosa para diante de um espelho e faz a clássica pergunta:
-Espelho, espelho meu, há no mundo, alguém mais gostosa do que eu?
Temendo vir a ser esfacelado o mentiroso espelho responde:
-Não, minha bela! Não há, não!... Você é a mais gostosa, o maior tesão – mentiu!
E não é que a anta acredita nas palavras do mentiroso e covarde espelho! Acreditou mesmo! E lá vai ela para a rua. Os pneus de trator despencam pelos lados. O barrigão (Eufemismo? Uma ova!) cai cintura abaixo. E ele tampa o Caminho da Felicidade e a própria “Felicidade” que o minúsculo zíper não conseguia ocultar. A minúscula (Será preciso dizer?) e ridícula miniblusa não tapa nada. Aliás, tapar por quê? A “moda” (Ou modismo – sei lá!), agora, é mostrar-se. Então, vamos lá! Mostrando o que deve e o que não deve ser visto.
E, para tristeza nossa, as ruas viraram passarelas de um eterno modismo de indiscutível mau gosto. Sim! Parece, diante de tantos absurdos, que estamos a viver em um inacabável carnaval de futilidades e gostos, no mínimo, discutíveis. E por ser o Carnaval das Caras de Pau, imagino as nossas ruas e avenidas como sendo a Sapucaí. E nelas está a desfilar a G.R.E.S.U.M.L (Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Moda Louca). Puxando o Samba Enredo está o sambista Neguinho (não o da Beija Flor) da Loucura, cantando o enredo da Escola: “O Samba das Marias (Chuteiras, Pagodeiras, Breteiras e Batalhão) Doidas!”
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