ADEUS ÀS ARMAS
Prólogo:
“No princípio, criou Deus o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo (...)”. (Gênesis Cap. 1, vers. 1 a 30. Cap. 2 vers. 1 a 4)
As escrituras, assim, narram o início daquele que viria a ser o mundo no qual, hoje, deveríamos estar vivendo – um paraíso! A narrativa prossegue com o Criador criando o homem “à Sua imagem e semelhança” (permitam-me o sacro santo direito em discordar?). E Deus entregou ao homem o mundo que era – àquele tempo – um paraíso: Éden!
À criatura, dera o Senhor o nome de: Adão! Para a sua companheira o nome de: Eva! As criaturas geraram filhos: Abel e Caim. E, ainda, segundo o Sagrado Livro, Caim, por ciúmes, matou Abel. Estava consumado o primeiro fratricídio, dentre os muitos, que assolaram – assolam e assolarão diga-se – a humanidade!
Contudo, as escrituras – ao atentarmos para esse item: “O assassinato de Abel”. – não são objetivas, bem detalhadas, precisas. Elas não nos dizem que, ou qual(ais), arma(s) usou Caim na prática daquele primeiro ato insano da triste história da humanidade, e que – numa parva luta de titãs – tantos outros aconteceram! Outros tantos acontecem, milhares de tantos outros – infelizmente, diga-se – acontecerão!
Todavia, imaginemos que foram as mãos, as armas usadas por Caim. Sim! Afirmemos, portanto: - Caim esganou Abel porque, à época, não existiam armas! E o mundo – a partir da metástase gerada pela besta fera humana – abandonou a condição de paraíso criado por Deus, tornando-o num inferno – bem pior, diga-se, que o vivido por Dante – criado por ele, o homem.
E o bicho homem gostou de assassinar. E assim sendo, começou a ‘pesquisar’ a criação de novas formas para matar. Para tanto, esmerou-se no desenvolvimento de criação de novas e potentes armas de extermínio!
(Está, quero crer, explicado o meu direito – ou pseudo direito, sei lá! – em discordar de sermos “a imagem e semelhança do Criador!”) Somos a antítese Dele – concordam? Deus é o Supremo Amor! Nós somos os supremos promotores do ódio! Deus é o Perdão. Nós somos a torpe, tola e insensata vingança! Deus é a Vida. Nós somos os causadores da morte! A síntese? É Ele! A antítese? Somos nós... todos nós – infelizmente, diga-se!
Parte I:
O tempo passa célere. Pegando aleatoriamente uma pedra, o homem notou que brandindo-a contra uma presa a mataria com mais facilidade. E já que podia, usando a pedra, matar ao caçar, porque não usar esta poderosa arma para matar o seu semelhante? E assim fora feito. Usando pedras, o homem caçava para sobreviver e matava para conquistar (em princípio) as fêmeas, os territórios e mais tarde (pasmem!), pelo mero prazer em matar os seus semelhantes!
As pedras, contudo, vão se tornando obsoletas. E ele, “criativo”, inventa o tacape. A nova arma era, na verdade, uma pedra atada a um madeiro, dando ao homem um novo artifício e modo de matar, assassinar!...
A descoberta do fogo fora um avanço na vida do homem. Em princípio, era utilizado – tão somente – para fins pacíficos: aquecer o homem, assar e cozer os seus alimentos. Contudo, o tempo mostrou que a nova descoberta poderia ser utilizada como uma poderosa arma para matar. E ele a usou para esse básico fundamento existente na sua parva memória: Matar!
Observando os animais selvagens, o homem nota que eles possuem uma arma natural: as afiadas garras para capturarem suas presas, não por maldade, mas por necessidade. A maléfica mente criadora do homem descobre que, lascando a pedra, afiando-a cuidadosamente e dando-lhe forma diferente, conseguiria torná-la um instrumento perfurante e de corte. Seria como as garras naturais dos animais. Contudo, ele criou uma segunda arma: a faca.
Ainda, e dando vazão à sua doentia mente criativa, nota que, se dotar esta nova arma de um cabo mais comprido, poderia atingir, em princípio, a caça, sem dela se aproximar tanto. Estava criada mais uma poderosa arma. Observando que esse artifício poderia ser ao longe lançado para alcançar o objetivo de matar, deu a ele um nome: Lança! E o “progresso criativo da parva mente humana” prossegue na criação de novas e poderosas formas de matar: O Arco e Flecha; a Catapulta; Aríete, Espada – dentre outras!
Veio, então, a invenção da pólvora. E essa nova invenção deu ao homem uma melhor forma de armar-se. E o homem inventou as armas de fogo: Pistolas, Garruchas, Canhões, Metralhadoras, bem como os modernos – e cada vez mais mortíferos – terríveis Fuzis AR/15.
As sádicas ideias do homem não impõem limite à sua maléfica criatividade. Desta feita, ele descobre o poder destrutivo da energia atômica. E ele – com ela, cria bombas, foguetes e os temíveis mísseis teleguiados. Os arsenais estão – de certa forma – tão mortíferos que, se os malucos governantes resolverem apertar os famigerados botões vermelhos, o mundo se transformará em pó. E as escrituras estarão com razão por terem preconizado: “do pó viemos, ao pó voltaremos”!
E o homem ficou provido de um maior poder de fogo para promover matanças – e ele matou! Matou outros bichos. Matou outras feras. E sendo a mais irracional de todas as feras, trucidou os seus semelhantes!
Parte II:
Mas o instinto sanguinário da besta humana não para. Ele precisa chegar ao ápice da sua idiótica sandice: saciar-se no sangue das suas vítimas! E a besta sacia a sua sede matando o Filho do Criador! E o Filho, Jesus Cristo – mesmo sofrendo um suplício maior que o imposto a Sísifo – se revestindo de um ato de extrema bondade e pressentindo a chegada do terrível Tânatos, emissário da morte, implora: -“Perdoa-lhes, Pai! Eles não sabem o que fazem!”
Em seguida, expira aquele que viera ao mundo com a nobilíssima missão dada pelo Pai: a de ao homem salvar e ensinar-lhe os Divinos e Sagrados Mandamentos! Dentre os dez, inserido está o Sexto. E ele prega enfático: Não matarás!
Mas a saga criativa do bicho homem não para – prossegue! Máquinas criadas com a finalidade de ao homem ajudar, se transformaram em possantes armas para matar.
Vale registrar que o cientista e inventor Alberto Santos Dumont inventou o avião. Ao ver que a sua criação estava sendo usada, como arma em guerras fratricidas, dizimando a humanidade, o inventor – por não poder deter a criatura – imolou o criador! Então, tomado pelos pensamentos de arrependimento e revolta contra a humanidade – suicidou!
Parte III:
Às vezes, divagando nas asas das minhas elucubrações, digo aos meus botões: – O soldado é o “Atestado de Burrice da Humanidade”. Explico: As incalculáveis verbas que são gastas nas criações de novas armas, formação e treinamentos de homens (tornando-os aptos para matar e saciar à sádica sede de poder e conquistas dos governantes), se fossem gastas em prol de avançados estudos nas áreas médicas, científicas e tecnológicas, o mundo seria muito melhor e o “Atestado de Burrice” deixaria de existir. Mas, e devido ao gritante índice de violência que sobre o mundo paira, o Atestado de Burrice da Humanidade (o Soldado) se tornou algo essencial, indispensável! Se o Soldado não existisse, a humanidade, por certo, já estaria extinta, porque iria prevalecer a lei do mais forte, a Lei de Talião: Olho por olho e dente por dente. Teríamos aí – entre aqueles que ainda permanecessem vivos – o restolho de uma humanidade cega e banguela!
Narra-nos a mitologia Grega que Zeus confiou a Pandora uma caixa na qual estavam guardados todos os males do mundo. Por indiscrição, um mortal abriu-a e, ato contínuo, todos os males nela contidos se espalharam por toda a face da terra!
Somos, cada um de nós, uma caixa de Pandora onde estão inseridos todos os males que assolaram, assolam e assolarão o mundo e a humanidade. Contudo, deveria haver em cada um de nós um guardião que, tendo recebido uma formação moral, pudesse sofrear os próprios instintos animalescos, impedindo-o de abrir a sua “Caixa de Pandora” e dela libertando os males que assolam o mundo. A esse guardião que deveria existir no âmago de cada ser humano, daríamos um nome: Consciência! E essa Consciência foi, é e sempre será oriunda da célula mãe da sociedade: a família. Essa nossa Consciência é o fruto de uma boa formação familiar estribada nos sagrados princípios de respeito, honradez e caráter!
Ouso dizer que o guardião (Consciência) da Caixa de Pandora (nós) é o Soldado que deveria existir em cada ser humano – policiando-o! Pois é essa Consciência/Soldado que, estando sempre alerta em nosso íntimo, iria sofrear os ímpetos animalescos que existe no bicho homem – mórbida herança da primata fera Caim. Por ter recebido no lar a devida formação moral, a Consciência/Soldado jamais iria permitir ao homem a abertura da sua Caixa de Pandora. Porque é essa Consciência/Soldado que estará sempre lutando em tempo de paz para que não haja a guerra. É ela quem estará sempre batalhando nos tempos de guerra, para que o amor e a paz possam florescer, o mais rápido possível, nos pétreos corações dos homens.
Epílogo:
É utópico, devo reconhecer, imaginar um mundo onde o respeito, independente das leis criadas pelo homem, direcionasse a sua convivência com o seu semelhante. Não há leis maiores que as inseridas na Divina Constituição: Os Dez Mandamentos. Bastaria, pois, ao homem, segui-las! Mas, porque seguir obsoletas, tolas e arcaicas leis? As melhores e mais profícuas leis são as criadas pelo bicho homem e não aquelas oriundas do Supremo Criador – Deus. E elas, as inúmeras leis criadas pelos homens, parecem dizer no seu caput e parágrafo único: Matem! Tendo motivo (Será que existe um – somente unzinho – plausível motivo para matar?) ou não, matem! E a criatura – o animalesco e horrendo bicho homem – deve ter causado grande arrependimento ao Senhor Deus Criador. Porque Ele, tristemente, chorou e, por certo, arrependeu-se por ter-nos criado – segundo o bicho homem, claro – “à Sua imagem e semelhança!”
Que bom seria – e lá estou a enveredar-me pelos utópicos e sonhados caminhos das minhas elucubrações – se o homem pudesse ser a imaginada criatura do Deus Criador. Pudesse vir a ser, na realidade, a imagem e semelhança Dele, o Pai – só por um átimo período de tempo – para que Ele, o Criador, pudesse ser feliz, sorrir e ressorrir por ter criado um ser realmente humano. Um ser que fosse – na realidade – a Sua imagem e semelhança!
Que bom seria se o homem fosse mais humano – menos fera!
Que bom seria se não houvesse tantos Cains!
Que bom seria (Oh, meu Deus!) se houvessem somente muitos Abeis!
Que bom seria se pudéssemos dar um eterno: Adeus às Armas!
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Imagem: Google