O MÊS DE AGOSTO
De todos os meses do calendário Gregoriano, agosto está entre os de maior evidência. Na crendice popular, é o mês do azar. Não se pode passar sob as escadas ou cruzar com gato preto. Tadinha das gatinhas pretas – vão ficar numa secura de dar um dó de dar dor no coração!
E a sexta-feira? Se vier – coincidentemente, diga-se – “cair no dia 13 do mês fatídico”... aí, a coisa fica mais complicada. E quando soer acontece, até a “Fezinha no Jogo do Bicho” faz o bicho pegar. E ainda – segundo a crença popular: “O bicho pega” mesmo. Mas quero afirmar que: -“No creo em brujas, pero que las hay, las hay!” Então, depois de tantos ai, ais – e se “hay ou não ai” – prefiro ficar na minha, pois – como mineiro que sou – acredito no adágio/crença que diz: -“Conselho e Canja de Galinha nunca mataram ninguém!” Portanto prefiro comer a minha Canjinha ouvindo os sábios conselhos para “ficar numa boa”, “numa nice” – como dizem na gíria – sem me preocupar com “hay ou ai” nenhum.
Eu tenho um excelente meio de transporte. Uma Ferrari, um iate, um turbo jato avião bimotor. Não! Nada disso! O meu veículo é especial, porque não polui o meio ambiente: são as Asas das Minhas Elucubrações. São elas que – quando apertam as saudades – se apresentam com o indelével convite:
-Vamos viajar?
Agora, estou divagando. Olho-as de soslaio. A saudade apertando, então – e não esperando a repetição do convite – nelas embarco. Estamos a caminho do tempo da minha infância em que – não temendo crendices – torcíamos para que o mês de agosto desse as caras. Era o mês em que mais brincávamos soltando papagaios (pipas de varetas, em algumas regiões) e arraias com as suas maravilhosas rabiolas enfeitadas de mil coloridos.
Mas, por que a preferência pelo mês de agosto? Agosto é o mês com maior incidência de ventos, combustível essencial para os voos dos nossos brinquedos: papagaios, pipas de vareta e as arraias multicoloridas.
Chego ao meu destino. A viagem no túnel do tempo durou um átimo de segundo, um vapt sem a necessidade do vupt.
Desembarcando das minhas Asas Elucubrativas, corro ao encontro dos saudosos amigos – encontro-os já com as ferramentas para fabricarmos os nossos brinquedos preferidos. O mês é agosto. E como há gosto para tudo, o nosso gosto em agosto era o de soltar papagaios, pipa de varetas e a colorida e bela arraia! E os – até então – inocentes brinquedos, galgavam os ares sob os nossos aplausos e gritos de saudações.
Terminamos as brincadeiras. As minhas Asas me olham e ordenam: -É hora da partida – partimos. Retorno a um presente – apodrecido presente no qual noto que até esse – então, um inocente brinquedo – perdera a sua inocência de outrora. Inventaram o Cerol (uma mistura de vidro moído e cola espalhados na linha), trouxeram do exterior a perigosíssima linha chilena com a mórbida capacidade de decapitar motoqueiros, ceifando-lhes a preciosa vida e assassinando a inocência de um salutar brinquedo.
O mês de agosto – para quem goste das crendices populares – deixou de ser agosto para ser desgosto. Tornou-se um arauto das desgraças: acidentes aéreos, marítimos, rodoviários e ecológicos – todos eles – foram creditados ao “fatídico mês.” Todavia, o mês de agosto é o mais lembrado em todos os dias do calendário Gregoriano. Senão, vejamos: Não existe nenhuma receita (desde que não seja às de sobremesa) da culinária em que não esteja explicitado: Sal a gosto – mesmo porque HÁ GOSTO para tudo e para todos os gostos!
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