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Altamiro Fernandes
A vida em verso e prosa
Textos
COMO SERÁ O AMANHÃ?
 
Adoro falar com os meus botões. E nessas minhas elucubrações, eles somente ouvem – nada falam. Resumindo: é um monólogo. Falo eu, ouvem-me eles! É ótimo falar para os próprios botões – é uma “terapia ditatorial”, diga-se!

 Desculpem-me! Estou “zapeando” no introito somente para dizer que: - A distância que nos separa da ficção (o ontem) para a realidade (o amanhã), é tão, ou mais tênue que um fio de cabelo, ou mesmo, o fio da teia de uma aranha.

Júlio Verne descreveu com tamanha perfeição como seria a, até então, fictícia viagem à lua, que, quando os homens tornaram realidade o sonho de, em lá chegarem, todos os detalhes do sonhador foram aproveitados: como deveria ser o módulo lunar, a sua decolagem e alunissagem, o procedimento em voo, enfim, todos os mínimos detalhes para um perfeito cumprimento da missão.

O grande cientista/profeta escreveu e descreveu também – com os mínimos detalhes, diga-se – “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”. Fora, então, execrado e taxado, por alguns, como sendo um visionário – um louco! Hoje, sabemos: dá-se oitenta voltas ao redor do mundo em, apenas, um punhado de horas. Está, pois, provado: a ficção do ontem é a realidade insofismável e inconteste do hoje.

Outro escritor imaginou e conseguiu descrever, com incríveis e impressionantes detalhes, a criação de um ser humano dentro de um laboratório. De corpos sem vida, retirou cérebro de um, pernas e tronco de outro, olhos, coração e vísceras de mais um e – de retalhos em retalhos – criou a fantasmagórica figura que aterrorizou o mundo cinematográfico de então. O nome da criatura: Frankenstein.

Hoje, a realidade nos mostra que a terrífica figura de outrora está, aí, “Vivinha da Silva”, a nos cumprimentar, falando e rindo conosco, por terem recebido um transplante que lhe salvou a vida. E tem tantos Frankensteins rondando entre nós, que já não metem medo nas pessoas. Muito pelo contrário, dão-nos imensas alegrias por serem nossos parentes e amigos queridos. São pessoas comuns a conviverem conosco, carregando dentro delas, partes das partes daqueles que partiram. Foram-se eles! Contudo, deixaram como legado, o nobilíssimo gesto de humanitarismo. E – como se fora um Cristo do Séc. XXI – fazendo uso de diferentes palavras, dissera o doador:
-“Tomai e usai – todos vós – todas as partes do meu corpo. Que sejais felizes enquanto viverdes. E que possam, em nome de Deus, espargir o amor, a compreensão e o nobre sentimento de doação entre todos os homens de boa vontade.”

Voando nas asas das nossas elucubrações, imaginemos um diálogo entre dois amigos que, de há muito não se encontravam:
-Oi Carlos!... Como tens passado meu amigo?
-Estou bem, graças a Deus! E aí, amigo? Fiquei sabendo que não estavas muito bem de saúde e que tinhas viajado à capital para tratamento. E lá, como foi?
-Comigo, está tudo bem. Há três anos, troquei o fígado e os rins. No ano passado, fiz um transplante de pâncreas e do coração. Nesse ano, troquei um pênis baqueado por outro zerinho em folha. Estou ótimo!... Ambos riram!
 (Abro um parêntese, amigos meus, para dizer-lhes: eis aí, em carne e ossos, um Frankenstein do século atual.)
Retorno ao papo: Desta feita sou o ouvinte entrevistado:
-E contigo, como vão as coisas? Tudo bem?
-Que nada, amigão!
-O que houve?
-A Marlene – a minha mulher, lembra-se dela? – também se submeteu a uma cirurgia de transplante de coração e...
-O que aconteceu amigo? Fala!... Ela... morreu?
-Não, meu amigo... foi muito pior! O coração transplantado era de uma mulher apaixonada por outro homem! Quando a Marlene o encontrou, fugiu com ele para sempre e não deu nem notícias!...

Temos, no caso, “uma Frankenstein” apaixonada, em cujo coração doado estava o enorme amor nele contido pelo seu inesquecível amado!
É a vida que segue a nos mostrar como será o amanhã!
 
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Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 02/08/2020
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