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Altamiro Fernandes
A vida em verso e prosa
Textos
LATITUDE: 19º 16’ 12’’ SUL / LONGITUDE: 45º 32’ 41’’ OESTE
 
O senhor Armando Bernardes Guimarães (“Seu Armando” – assim ele é tratado por todos.) é um comerciante, aqui, do Bairro Floresta, desta nossa tão amada Belo Horizonte, no querido Estado das Minas Gerais. Há quem diga – no que concordo – que: -“O que se procura, não sendo encontrado na loja do seu Armando, desistam – não será encontrado em lugar algum.” Como antanho diziam: Ele vende ‘de um tudo’!

Todavia, antes de prosseguir falando sobre o Senhor Armando, gostaria de – ‘num dedim de prosa’ – contar um antigo ‘causo’ de um, também comerciante, que vendia na sua loja – como antigamente diziam – “de um tudo”. Por saber da fama da Loja de Bugingangas daquela pacata cidade, lá chegou um viandante solitário querendo botar à prova a fama do lojista. Em lá chegando, a todos cumprimentou e saudou com um sonoro: - Boa tarde pessoal!
-Boa, seu moço – responderam em uníssono os que, ali, se encontravam a pitar os seus cigarrinhos de palha, enquanto jogavam um dedim de prosa para fora!

Ato seguinte, e olhando fundo nos olhos do vendeiro perguntou:
-Eu vim, aqui, para comprar um Espírito de Porco – o senhor tem, aí, um para vender?

Os presentes se entreolharam a imaginar: - Aí tem coisa! Esse moço tá cum cara de má querência. Trem bão num vai sair daí, não!

-O finório vendeiro (Ops! Quase me esqueci de dizer que ele era um esperto estrategista mineiro. Pois é... era!) coçou a barbicha, baixou a cabeça para olhar o recém-chegado por cima da armação dos óculos e, com ares de uma duvidosa sinceridade respondeu:
-O freguês deu um piquinino azar. O último que eu tinha aqui, na loja, acabei de vender indagorinha mesmo. Mas se o freguês quiser voltar daqui a uns dez minutim, eu trago e vendo – ou melhor – dou um para o senhor.

O forasteiro olhou de soslaio para o vendeiro, deu um sorriso zombeteiro e, desconfiado, falou:
-Está bem! Dentro de dez minutos eu voltar aqui para buscá a minha encomenda.

Os que assistiram aquela porfia ficaram com as orelhas em pé. Como, e onde é que o vendeiro iria encontrar um “espírito de porco” para vender ao forasteiro. Mas, e por saberem da esperteza do mineirim, nele confiavam para salvaguardar o bom nome e a honra da cidade que ambos gozavam.

Os “dez minutim dados pelo mineirim” passaram voando. Os passos do forasteiro anunciavam a sua chegada. E ele adentra a vendinha trazendo nas faces a certeza de que dobraria, e acabaria com aquela ridícula fama da cidade e a do vendeiro. E ele adentra o recinto, com ares de vencedor da porfia, e diz:
-E aí, cadê o meu espírito de porco?

Sem deixar-se levar pela empáfia do visitante, o velho vendeiro foi até os fundos da loja e, de lá, voltou trazendo – quase que arrastada – uma velha senhora e disse:
-Oia, aqui a sua encomenda!
Atônito, o forasteiro indaga:
-Mas, o que é isso? Eu quero comprar um espírito de porco e o senhor me traz esta velha senhora! Não estou entendendo!
-“Uai, sô! não pidiu um espírito de porco? Oia ele aí, moço!” O maior “Espírito de Porco” que existe nessa cidade, é esse: a minha sogra, uai!

Todos – inclusive o forasteiro – riram e ressoriram da vivacidade daquele velho e astuto vendeiro.

O “dedim de prosabão dimais da conta, sô”, mas vamos voltar ao seu Armando. Ele é o norte deste conto. É dele que ouvi o que passo a narrar:

O seu Armando é natural da cidade de Quartel Geral e tem, como conterrâneo, o dileto amigo Mário Macedo, que exercia – em aurífera era – a profissão de crupiê em um cassino às margens da Lagoa da Pampulha! O Mário Macedo – vale ressaltar – passa a ser a figura central deste conto que ele passou para o senhor Armando, que passou para mim, que passo, desta feita, aos meus leitores.

Mas, na realidade, quem era Mário Macedo? Vejamos, pois, a começar pelo apelido a ele conferido. Por ser um dos portadores da doença Vitiligo, trazia em suas mãos as manchas brancas que eram o comprovado diagnóstico da doença. Estas fatídicas manchas lhe renderam o apelido de Mão Pelada. Se procurassem por Mário Macedo, provavelmente não o encontrariam. Todavia, se perguntassem onde mora Mão Pelada, todos, por certo, diriam: -“Conheço, sim, o Mão Pelada! Ele mora (...)”! E as explicações eram minuciosas pelo fato de Mão Pelada ser uma pessoa conhecida, amada, querida e admirada por todos.

Desde cedo, na mais tenra da sua juventude, Mário Macedo foi trabalhar em uma empresa que atuava no ramo de entregas. Curioso, e mesmo sem ser motorista, aprendeu a pilotar os carros da empresa, fazendo as manobras nas áreas destinadas às garagens. Vale ressaltar que nunca obteve uma CNH que o habilitasse a dirigir veículo automotivo. E foi nesta empresa que surgiu o seu apelido. O patrão determinou a um dos empregados que procurasse o Mário para que ele cumprisse determinada função. Por não conhecer o Mário, o empregado perguntou:
-Chefe, quem é o Mário? (Ops!... cuidado! Não é aquele que... tudo bem – esqueçam, não é o do armário!) Eu não o conheço!
-É aquele da mão pelada!

A partir desta data, o Mário Macedo acabara de receber o atestado de óbito, morreu para dar lugar à alcunha Mão Pelada!
 
Epílogo:
 
Já era madrugada. O galo acabara de dar o toque da alvorada que, a todos acordara. A todos? Não! O croupier Mário estava saindo do seu trabalho no Cassino da Lagoa e, exausto, se dirigiu ao seu carro. Mal deu tempo de  chegar à Avenida Antônio Carlos, derreou-se. Traído pelo cansaço e sono, deleitou-se nos braços de Morfeu, só acordando ao ouvir a batida do seu carro em outro veículo que se encontrava estacionado. Atordoado, abriu os olhos e ouviu a sirene de uma viatura policial que se aproximava. Dela desceram um Sargento acompanhado dos demais componentes da guarnição.
-Documentos, por favor, meu senhor!

Mário, ainda entorpecido pelo acidente, enfiou a mão no bolso, dele retirando a sua identidade. O trêfego Sargento, ao ver a identificação do Mário, se empertigou, “bateu uma continência”, deu uma voz de comando aos seus comandados dizendo, alto e em bom som:
-Tropa, sentido! E, ato seguinte – completando o respeitoso tratamento – disse:
- Meu chefe, serviço sem alteração. Pode ir embora. Vaze por esta via lateral e pode deixar que, aqui, nós vamos resolver tudo!

O Mário vazou – como bem dissera o Sargento – sem nada entender. Só depois de chegar à sua casa é que pode ‘ligar uma coisa a outra’. E é dele a explicação para o comportamento inusitado do Sargento. Com a palavra, o Mário:
Ao ler na minha identidade o nome Quartel Geral, o Sargento pensou que se tratava de uma alta autoridade – um General de Múltiplas Estrelas – e, por isso mesmo, tratou de quebrar o galho do imaginável “General Estrelado”.

Todavia, Quartel Geral é, tão somente, diga-se, o nome do Município que  tem como vizinhos os municípios de Dores do Indaiá, Abaeté e Martinho Campos.

Os habitantes se chamam Quartelenses. O município se estende por 556,4 km² e contava com 3.315 habitantes no último censo. A densidade demográfica é de 6(seis) habitantes por Km² no território do município. Vizinho dos municípios de Dores do Indaiá, Abaeté e Martinho Campos, Quartel Geral se situa a 16 Km a Sul-Oeste de Abaeté, a maior cidade nos arredores. Situado a 710 metros da altitude, de Quartel Geral tem as seguintes coordenadas geográficas:
Latitude: 19º 16’ 12” Sul. Longitude: 45º 32’ 41” Oeste.

Deve-se dizer que, graças ao Município de Quartel Geral, um mero crupiê – “barbeiro” e com sono – fora promovido a um General de Múltiplas Estrelas.
 
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Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 22/07/2020
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