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Altamiro Fernandes
A vida em verso e prosa
Textos
A Sapiência da Natureza - Capítulo 1
                                     
Capítulo I:
 
A Mamãe Gansa mal cabia em si, tamanha era a sua felicidade. E o motivo era o seu ninho no qual pululavam emergentes vidas. E o último dos ovos estava prestes a eclodir. De dentro dele, o Gansinho apontou o frágil biquinho, bicou e... (Ploft) fez o primeiro buraco na dura casca que o aprisionava. Um filete de forte luz inundou o minúsculo aposento, ferindo-lhe os ocelos. Fechou-os, abriu-os! Repetiu a operação com rápidas e precisas piscadelas até que os olhinhos, à luz, se acostumassem. Prosseguiu na difícil tarefa de pela vida lutar. Era aquela, a primeira batalha – dentre as duras e muitas, claro está – que deveria enfrentar para sobreviver no mundo ao qual estava chegando.

Lá fora, aflita, Mamãe Gansa travava contra si mesma uma refrega maior. O grande e sofrido coração de mãe implorava-lhe ajuda ao indefeso Gansinho na árdua tarefa da quebra do invólucro. Todavia, a razão falou mais alto: -“Seu filho, Mamãe Gansa, tem que provar – como os demais – toda a sua capacidade em vencer os obstáculos os quais a lide pela vida, no seu delinear, vai submetê-lo.” E prosseguiu: -“Calma... calma! Ele vai conseguir se impor para enfim, vencer a sua primeira contenda!”

Outro “ploft”, seguido de um forte “crasch”, se fez ouvir. Rolando em meio às penas do ninho, o recém-nascido Gansinho foi inundado pela profusão de luz solar que o aquecia ao mesmo tempo em que secava a rala penugem do seu desajeitado e frágil corpinho.

Tentou erguer-se, postar-se de pé. Não conseguiu. Nova tentativa e, claro, queda nova! Suas insustentáveis perninhas em nada poderiam ajudá-lo – parecia! Com o amparo das asinhas, novamente insistiu. Desta feita, contudo, obteve o efeito desejado e – ainda que meio trôpego – posicionou-se de pé. Trêmulo, ensaiou os primeiros e desastrados passinhos, seguidos de mais alguns hilariantes tombos. Mamãe Gansa viu nele uma beleza ímpar, singular (Como bem disse a Coruja!) que somente as mamães conseguem ver nos filhos. Feliz, cutucou-o carinhosamente com o bico na azáfama de ajudá-lo a soerguer-se. Os irmãozinhos e o Papai Ganso se exultavam e riam do, ainda, desajeitado e atrasado maninho!

Algum tempo depois, toda a família já se encontrava no lago para o primeiro passeio e nadadas matinais dos irrequietos, barulhentos e esfaimados Gansinhos. As perninhas – frágeis em terra – eram, agora, possantes hélices ligadas aos “motores de popa” a cortarem velozes as águas do lago. Aquela era a “praia” deles. Ali era o nicho deles. Ali era o seu habitat natural.

Papai Ganso, Mamãe Gansa, com seus poderosos bicos fustigavam o fundo e orla do lago à cata de vermes, minhocas e insetos para se alimentarem, no que eram imitados pelos famintos e insaciáveis Gansinhos.

-Bom dia, Dona Gansa!... Linda prole – saudou e elogiou uma Pata popozuda que, à margem do lago passeava com seu andar rebolativo, insinuante, buscando um – quem há de saber – pato para ser o pai da sua futura prole!

Rindo, a Mamãe Gansa respondeu a saudação de bom dia e agradeceu o elogio:
-Obrigada, amiga! Obrigada – repetiu o agradecimento!...

Os Gansinhos não ouviram os elogios. Mas – e se ouviram – nem deram bolas. Para eles, no momento, o mais importante era comer, nadar, brincar e conquistar aquele maravilhoso mundo novo que diante deles se descortinava.
 
 
 
Final do Capítulo 1
 
Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 27/06/2020
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