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Altamiro Fernandes
A vida em verso e prosa
Textos
TRISTE REALIDADE DA VIDA
 
Hoje eu vi um velho. Tudo bem..., ver um velho é uma coisa comum, natural – no que concordo! Contudo, devo confessar que, hoje, fora diferente. Eu não apenas o vi, eu enxerguei aquele velho como se estivesse assistindo a um “vídeo-tape” do meu, do seu, do nosso atro futuro.

No seu trôpego andar – cansado e vacilante – lá ia, ele. Sua macilenta pele, carcomida e enrugada pelo inexorável tempo, seus rotos andrajos e as doenças que os sofridos anos fizeram acumular ao seu corpo, denotavam todo o descaso que a sociedade (Sic!) tem para com ele.

Minha mente voou a mil. Penetrei no imaginário Túnel do Tempo e nele retrocedi – embarcado nas Asas das Minhas Elucubrações e dos meus etéreos devaneios – em uma introspectiva viagem aos idos da minha infância querida.

Chego e desfaço-me das minhas Asas. Estou desta feita, na fazenda do meu amado Avô e – juntamente com outras crianças amigas – assentado de frente para ele, tenho a sensação de degustar a sua deliciosa imagem. O meu Avô (Benício era o seu nome!) era um idoso jovem, alegre, afável, querido e, por todos, adorado. Ele era, por assim dizer, o médico, o conselheiro e o curador de todos os males. Nas horas vagas – e, claro está, para o deleite nosso – era um exímio contador de maviosos casos – ‘causos’ e histórias, como, agora, ele fazia.

Um gélido e gostoso argênteo luar a tudo iluminava. Uma crepitante e aconchegante fogueira a todos aquecia. Da boca do meu Velho querido brotavam pérolas em forma de palavras que eram absorvidas pela plateia ávida de curiosidade pelo desenrolar e desfecho da história. Eram, geralmente, causos de lobisomens, sacis, mula-sem-cabeça e fantasmas que nos deixavam arrepiados. Não faltavam, também, as histórias de Reis, Rainhas, Príncipes e “Prencesas”, como costumava dizer o meu amado Avô em seu modesto, porém, gostoso linguajar cheio de nuances e singelezas ímpares... singulares.

Os olhos do meu Velho Avô reluziam de emoção dando ênfase às narrativas. Os nossos, inebriados que eram pela pueril imaginação, faiscavam de emoção, medo e ansiedade por ver o ápice das histórias e fábulas narradas.

O meu Velho, assim como nós outros, era aquecido pela fogueira. Ele, todavia, estava mais aquecido que os demais: estava aquecido pelo carinho, amor, respeito e a admiração que as fogueiras dos nossos corações, para o dele, emanavam sob a forma de calor humano.

Balouço a cabeça. Dispo-me das Asas das Minhas Elucubrações e Volvo ao Túnel do Tempo. Tenho que voltar a um tempo ao qual não gostaria de retornar, por ser um tempo onde não há respeito, amor e carinho. Não há mais as fogueiras de solidários corações a emanarem o calor humano para os outros corações, principalmente para os dos mais velhos. Há, todavia – neste tempo de horrores – uma multidão com insensíveis pétreos corações. E isso –  tristemente diga-se – está nos tornando menos pessoa, menos gente e, o que é bem pior: Menos Seres Humanos! Estamos vivendo uma era da robótica e em robôs estamos nos transformando. Somos insensíveis máquinas robóticas dominadas pelo escravagismo consumista de loucas tecnologias futurísticas de um futuro de incertezas, de dores e de incertezas – imagino!

Hoje, o velho nada mais é que um mero peso morto, um frio número  0800 para uma sociedade composta por jovens que nunca velhos serão – assim imaginam! Hoje, o velho é uma nova e, a cada dia mais sofisticada, televisão. E é ela quem nos conta os casos, porém não nos conta os gostosos ‘causos’ que inebriava-nos. Conta-nos histórias, todavia, sem a graça, a poesia e o gostoso lirismo das contadas pelo meu Velho Avô – Vovô Benício Barbosa Santiago, orgulho do eu, seu neto!

Ah, meu Velho Avô – quantas saudades! Sinto-as porque a luz que faz os nossos olhos cintilarem é diferente – não é a de uma fogueira. É uma luz fria como os homens – pior: gélida e sem vida! É uma luz de raios ultravioleta e gama, emanados pela enorme tela de imagens do televisor. Não é uma quente luz como a das fogueiras dos nossos singelos e puros corações de crianças que, outrora fomos e o aquecia nas gélidas noites de um argênteo luar.
 
Epílogo:
 
Desfaço-me das Asas das Minhas Elucubrações. Saio do Túnel do Tempo. Volto à brutal realidade da cotidiana e mesmíssima vida. Volvo o olhar e vejo o velho que me levou a divagar nas minhas pueris elucubrações.

E lá vai ele. Perdido e solitário em meio aos parvos formadores de uma multidão que o vê, mas não o enxerga. Nele todos se esbarram, mas não o sentem, como se fosse o velho passante um fantasma errante que traspassa – com sua forma volátil – os corpos daqueles que formavam a multidão, cega e insensível, em torno de si.

Vejo-o! E lá vai ele no seu trôpego e indefectível caminhar. Com suas míseras e rotas vestes, vai! Sem saber para onde ir – lá vai ele! Querer ir para algum lugar, queria. Mas ir para onde, se para donde ir, não tinha... não havia!

E – sem ter para onde ir – ele, lá vai a estiolar-se em meio à insciente multidão que não o sente, não o vê e não dá a devida importância ao seu sofrer – aos seus sofreres! À sua dor – às suas dores!...

E lá vai ele! Mesmo sem ter para donde ir – ele vai, vai!... Vai!... Infinitamente, vai!... Vai!...

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                 Altamiro Fernandes da Cruz

 
 
Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 26/06/2020
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